Sociedade

A escola é pilar da cidade

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O progresso de S. João da Madeira é indissociável da educação e da cultura, defendeu a comissária das comemorações do Dia da Cidade, Eva Cruz. A docente e poetisa natural de Vale de Cambra marcou, ao longo de décadas, inúmeras gerações sanjoanenses

Mulher, professora e representante da escola pública. Foi assim que Eva Cruz, comissária das comemorações, se apresentou na sessão solene do 39º aniversário de elevação a cidade, que se iniciou com a atuação do Coro de Câmara de S. João da Madeira esta terça-feira à noite, na Casa da Criatividade. Perante uma plateia onde se contavam valecambrenses e antigos alunos, Eva Cruz agradeceu a honra de ser comissária do Dia da Cidade, uma função que encarou “com sentido representativo e significado coletivo”.
Nas áreas da educação, cultura e social, Eva Cruz reconheceu que o empenho do atual executivo “é um facto incontestável”. No domínio cultural, realçou “a ampla oferta”, a qualidade da programação e os preços acessíveis ou até gratuitos de alguns eventos. Sobre a escola, deixou uma palavra ao projeto Assembleia Municipal Jovem, que considera ser “uma excelente maneira de despertar nos alunos o espírito cívico e a estruturação da cidadania”. Já o campo social e humanitário, apontou, “tem sido bem trabalhado pelo município” no sentido de esbater desigualdades.
Por entender que cultura é “um pilar fundamental na sociedade” e a escola “o meio ideal para a fazer desabrochar”, Eva Cruz quis falar sobre o papel do professor e do ensino. A educação, lembrou, começa na família, mas a escola “não pode abdicar desse honroso papel”, que vai além de matérias e conhecimentos e que ensina “a ser gente”. E ensinar e aprender, realçou a comissária, “são duas faces da mesma moeda”. “Quem ensina, aprende a ensinar, e quem aprende, ensina ao aprender”, afirmou.
A professora defendeu uma escola “sem preconceitos em relação ao diferente, ao novo ou ao complexo” e lembrou as conquistas de Abril. “A revolução de Abril trouxe um novo sol, uma nova luz entrou pela escola e transformou-a”, afirmou. Na “nova escola”, como lhe apelidou, Eva Cruz encontrou “a força encantatória da profissão” que escolheu e que desde criança desejou. “Penso que eu e os alunos soubemos todos aprender e, uns aos outros, ensinar o mundo da confiança, da esperança e da alegria”, afirmou.
“Orgulhosa” de representar a escola nas comemorações de elevação a cidade e “o papel dignificante que um professor pode e deve desempenhar na vida de uma comunidade”, Eva Cruz vislumbrou a terra que a adotou e que passou de uma vila, “entre o rural e o urbano”, “a uma grande cidade”. “Não tenho dúvidas de que a escola foi um dos pilares fundamentais da construção desse futuro que é hoje o nosso presente. Os cidadãos de hoje, em todos os ramos da vida da cidade, desde os mais simples aos mais complexos, beberam os seus ensinamentos e receberam formação nesta escola”, sublinhou. “A chave mestra da escola não é só o ensino, é o despertar”, rematou.

“Um marco importantíssimo no percurso de afirmação política da nossa
comunidade”

Nas palavras do presidente da Câmara, a elevação a cidade constituiu “um marco importantíssimo no percurso de afirmação política da nossa comunidade”, em realização ao qual agradeceu o “papel decisivo” de Carlos Ribas e o contributo de Carlos Tavares Fernandes, recentemente falecido, a quem o autarca prestou “pública homenagem pela sua extraordinária dedicação à nossa terra”.
Outro nome presente no discurso de Jorge Vultos Sequeira foi o de Eva Cruz, a quem convidou para comissária das comemorações do Dia da Cidade deste ano, salientando o facto de ser “unanimemente reconhecida pelos seus pares e alunos como uma professora de excelência”, tendo contribuído “decisivamente para a melhoria das condições de vida dos sanjoanenses e para o progresso da nossa comunidade”.
Numa cerimónia marcada pela atribuição de medalhas de mérito municipal, o presidente da Câmara destacou o facto de estarem a concluir um período de 25 anos consecutivos de “trabalho voluntário” na instituição “sem qualquer retribuição financeira e com sacrifício das vidas pessoais e profissionais”.
O autarca lembrou depois projetos e concretizações recentes da Câmara, começando por referir a aprovação de candidaturas no âmbito do contrato de financiamento de cerca de três milhões de euros, outorgado entre Município e a Área Metropolitana do Porto, no quadro do PRR, envelope financeiro destinado à ação social que “é o mais elevado de sempre para este domínio da ação municipal”. A habitação foi outra área focada pelo edil no seu discurso, salientando os cerca de 39 milhões de euros previstos no programa 1.º Direito, uma verba que considera ser “um financiamento histórico”.
Referiu ainda diversas adjudicações, como a 1.ª fase do novo Parque Urbano das Corgas, a requalificação da Rua Oliveira Júnior, a melhoria das acessibilidades da Rua Visconde e a repavimentação de vias rodoviárias no montante de cerca de 500 mil euros. Acrescentou que está em procedimento de contratação a reabilitação dos espaços desportivos exteriores da Escola Serafim Leite.
O autarca sanjoanense deixou ainda uma palavra sobre o próximo desafio estrutural, que se prende com o novo quadro comunitário de apoio Portugal 20/30, que, como afirmou, prevê a requalificação da Linha do Vouga, entre outras medidas. “O município está preparado para aproveitar devidamente esses fundos rumo a uma cidade mais inclusiva, competitiva, sustentável e empreendedora”, garantiu.

“O ensino é um ato de amor”

Nascida num “recanto de verdura e ruralidade”,em Vale de Cambra, Eva Cruz partilha a sua vida com S. João da Madeira há 53 anos. No vídeo que deu a conhecer a comissária das comemorações, a professora e poetisa recordou a infância na terra natal, local que pela sua beleza e encanto natural a inspirou aescrever seis livros. Aprendeu a ser “solidária” na escola, ao repartir o pão com os colegas em “tempos de guerra”, afirmando-se como “uma mulher de paz”. Conheceu a generosidade através dos pais e cedo aprendeu a valorizar o trabalho, lema da cidade que mais tarde a acolheu. Iniciou o percurso de professora “na escola do antigo regime” e realçou o “sonho” que se cumpriu com Abril: a construção de uma escola pública. Lembrou os tempos de ensino na hoje denominada Escola Secundária João da Silva Correia, onde desempenhou também cargos diretivos. Dessa época, destacou a vontade de “mudar a escola por dentro e por fora”, sem recursos económicos ou ambições pessoais, mas com vontade de “fazer mais pelo bem coletivo”. O ensino, resumiu, “é realmente um ato de amor”. Coerente, responsável, exigente, tolerante, amiga e cúmplice dos seus alunos. Assim se definiu Eva Cruz, professora que deixou uma marca indelével na cidade. “Sinto-me muito bem acolhida pelos sanjoanenses”, realçou, afirmando que no exercício da sua profissão não se limitou a ensinar inglês ou alemão. Foi além disso, promoven­do, através da “reflexão e da arte da palavra”, a formação de cidadãos “livres, pensantes e autónomos”. Atualmente a viver em S. João da Madeira, Eva Cruz destacou as vantagens de uma cidade pequena. ”Tenho à minha volta tudo o que preciso”, afirmou. Na rua cruza-se regularmente com alunos, que a tratam com carinho e lembram uma “professora otimista” e que “nunca desistiu” de cada jovem ou criança que lhe passou pelas mãos. “Sou lembrada como sempre gostaria que fosse”, confessou.

c/António Gomes Costa

 

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