A entrada no novo ano em S. João da Madeira foi recebida em muitos pontos da cidade à varanda entre vizinhos.
O frio ajudou ao confinamento na noite da passagem de ano em S. João da Madeira. Faltava ainda cerca de três horas para a meia noite e a cidade encontrava-se praticamente deserta, mas, com o aproximar da meia noite, era visível algum movimento de pessoas e de viaturas a circularem pela cidade.
Impedidos de assinalar a entrada do novo ano como em anos anteriores, devido às restrições aplicadas pelo Governo como medidas preventivas motivadas pela situação pandémica, muitos residentes em S. João da Madeira optaram por assinalar a contagem decrescente para 2021 com vozes afinadas, anunciando os desejos de um ‘bom ano’ a partir das varandas, janelas e terraços de casas, que se misturavam com aplausos, assobios ou bater de tachos, como aliás manda a tradição.
Glória Rosa e a família brindaram à chegada de 2021 na varanda de casa, com a partilha de um “ano melhor e mais sorridente” juntos dos vizinhos, que comemoravam à janela. “Um vizinho do prédio decidiu colocar uma coluna com músicas e eu, com alguns moradores, não resisti e fui até à rua dançar umas cinco músicas. Mas todos com máscara e com o devido distanciamento”, refere esta moradora na Rua Combatentes da Grande Guerra.
Na varanda de casa a ver o fogo
Miguel Tavares, morador na Rua Padre Cruz, assegura que da varanda do seu prédio tinha “vista” privilegiada para vários pontos com fogo de artifício. “Passei provavelmente a primeira meia hora do ano à varanda, com o copo de champanhe na mão e os amigos a ver o fogo”, pois sabia que este ano “tudo seria diferente”.
Bernardo Santos passou a passagem do ano entre amigos. “Já sabíamos que este ano tudo ia ser diferente. Escolhemos os amigos e passámos todos juntos em casa”. Mas a Rua Sá Carneiro, em S. João da Madeira, onde vive, ganhou uma cor diferente à meia noite. “Lançámos um pequeno fogo de artifício, mas tudo foi devidamente acautelado. Afinal, era a despedida de um ano marcante e com a esperança de entrar em 2021 com algum otimismo”. Para este grupo de amigos, os “abraços e beijos foram todos controlados”. “Não foi fácil”, mas a responsabilidade “não nos passou ao lado”.
“O primeiro brinde do ano foi diferente”
Rosa Maria foi outra sanjoanense que assinalou de forma “caseira” a chegada do novo ano e não consegue descrever o sentimento de “estranheza e até de alguma revolta” quando se apercebeu, minutos antes da meia noite, que tudo afinal ia ser diferente e que não podia abraçar amigos e vizinhos. “Ao todo, éramos seis pessoas cá em casa”. A família dividiu-se pelas várias janelas da casa. O momento dos pedidos para o novo ano, o primeiro brinde do ano, tudo foi diferente. “Foi marcado por um silêncio de segundos, em que rebobinámos a cassete de 2020”.
Rosa assume que “foi impossível não pensar no vírus, no que já vivemos, nas pessoas que morreram”, e na “incerteza do que ainda nos espera, apesar de estar já a ser administrada a vacina”.
Esta sanjoanense, moradora na Avenida António Henriques, explicou ainda a ‘O Regional’ que o fogo de artifício que via do alto de sua casa em várias localidades vizinhas e em S. João da Madeira foi encarado como “uma esperança”, já que o brilho que coloriu o céu por longos minutos teve para si “uma visão diferente de anos anteriores”. Apesar de considerar que o espetáculo pirotécnico não foi tão imponente como o que se via, à mesma hora, em anos anteriores, entende que o mesmo “fez despertar” a população para o espírito de réveillon.
Em Portugal, como em muitos países do mundo, onde as infeções e mortes devido ao novo coronavírus continuam a aumentar, o ano de 2021 foi recebido em casa, uma vez que o Governo proibiu a circulação entre concelhos e o recolher obrigatório às 23h de 31 de dezembro em todo o território continental, onde os ajuntamentos eram também proibidos na via pública, assim como festas públicas.
Recorde-se que o Parlamento aprovou a renovação do estado de emergência para vigorar até 7 de janeiro de 2021.