Diz que foi a pandemia que a “tramou”, impedindo-a de percorrer diariamente a cidade para tomar o pequeno-almoço e conviver com as pessoas. Francelina Garcia fez 100 anos, e é um exemplo de que os anos “são apenas números”.
Tratou-se de uma conversa sobre o passado e o presente, com alguém que já viveu tanto, e o suficiente, para pensar que, se calhar, a vida está a recompensar-lhe pelo passado difícil.
Francelina Garcia nasceu a 24 de maio de 1921, no lugar de Pigeiros, no concelho de Santa Maria da Feira. Aos seis anos veio para S. João da Madeira com a família e por aqui ficou. Tem pena de não saber ler nem escrever. Começou a trabalhar mal chegou a esta cidade, e só parou aos 80 anos. “Eu era jornaleira. Trabalhava nos campos e limpava a casa de muitas pessoas conhecidas, como o senhor Nicolau da Costa”. Prestou ainda serviço em várias empresas.
Ia de madrugada com um cesto à cabeça com tiras que sobravam dos chapéus de S. João da Madeira até ao Porto, várias vezes por semana. “A viagem durava cerca de cinco horas”. Para não estragar os chinelos, “colocava-os a servir de rodilha à cabeça”, mas quando a Polícia a abordava, “tinha de os calçar, pois o Salazar não permitia que ninguém andasse descalço na rua”.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3846 de O Regional, publicada em 3 de junho de 2021.