Política

“Os sanjoanenses, ganhariam muito mais com um hospital dentro do SNS mas gerido pela Misericórdia"

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Jornal ´O Regional’ - O ano passado assumiu que iria “lutar para que alguns dos processos que aguardam concretização, como as obras na esquadra da PSP, a revitalização da Linha do Vouga e o reforço do nosso hospital, sejam uma realidade”. Acha que tem conseguido essa luta?
Paulo Cavaleiro - De facto, essas foram algumas das questões que identifiquei e pelas quais me comprometi a lutar no Parlamento e a verdade é que, ao longo dos 11 meses de mandato, produzimos algumas iniciativas, questionámos o Governo diversas vezes e os processos estão em franco desenvolvimento. Como é sabido, o Governo mostrou estar empenhado em garantir a ligação de comboio direta ao Porto, assinou o memorando de entendimento com a Santa Casa da Misericórdia para a passagem da gestão do nosso hospital, que voltará a ser gerido pelos sanjoanenses, impulsionou a requalificação da esquadra da PSP, implementou, ao fim de tantos anos de reivindicações, o sistema intermodal Andante na Linha do Vouga e reativou o campo de treinos do Centro de Formação da Escola Nacional de Bombeiros, sediado no nosso quartel, que estava inoperacional por falta de condições. Creio, por isso, que o balanço é muito positivo.

Um ano depois, os portugueses são chamados novamente às urnas. Quais são, enquanto deputado, as suas principais prioridades para S. João da Madeira neste momento?
Além de poder continuar a trabalhar para que, de uma vez por todas, os anseios referidos se tornem numa realidade – alguns já estão e outros precisam de novos impulsos –, sabemos que há ainda muito que podemos e queremos concretizar. Desde logo, garantir a rápida requalificação do nosso tribunal e uma nova e melhor ligação da Zona Industrial das Travessas ao IC2, mas também procurar apoio para a construção das novas piscinas municipais, reforçar os apoios para habitação jovem e a custos controlados e reforçar a implementação de projetos nas áreas sociais e de educação.

No que toca à Linha do Vouga sabemos que, recentemente, o Governo solicitou à Infraestruturas de Portugal, I.P. um estudo sobre a mudança de bitola e a eletrificação da Linha do Vouga com vista à ligação à Linha do Norte. Acredita que a ligação direta ao Porto de comboio está próxima?
Fiquei satisfeito quando o Secretário de Estado das Infraestruturas o anunciou no Parlamento, em resposta a uma questão que lhe colocara. Como sabe, o PSD sempre defendeu uma solução para a Linha do Vouga que a pudesse ligar diretamente ao Porto, para que os sanjoanenses pudessem entrar no comboio em S. João da Madeira e não terem de mudar de composição em Espinho. Não temos dúvidas de que essa é a solução que melhor serve o interesse dos sanjoanenses e das populações dos concelhos do sul da Área Metropolitana do Porto (AMP). E, com franqueza, faz-me alguma confusão saber que houve alguma oposição por parte do Partido Socialista em S. João da Madeira. Mas o que verdadeiramente importa é que este Governo tem dado passos importantes na ferrovia e isso é bem visível, não só a nível nacional, com os mais de 250 mil aderentes ao Passe Ferroviário Verde, como no nosso território, com os avanços na Linha do Vouga. Não tenho dúvidas de que, com este Primeiro-Ministro, a ligação direta ao Porto será uma realidade. Basta ver a resolução do Conselho de Ministros de 11 de março, que mandatou a Infraestruturas de Portugal, S. A. para que promova a realização dos estudos necessários à tomada de decisão, relativamente à modernização e eletrificação a Linha do Vouga, com ligação à Linha do Norte em condições de plena interoperabilidade.

Defendeu, num dos debates do Orçamento do Estado, a extensão do sistema intermodal de transportes da Área Metropolitana do Porto – o Andante – à Linha do Vouga, uma reivindicação de muitos autarcas servidos por aquela ferrovia. Foi uma vitória conseguida?
Foi uma das vitórias conseguidas. Deu muito trabalho, mas demonstra a importância de darmos atenção política a determinados assuntos. No fundo, ajudámos a corrigir uma injustiça, pois não fazia sentido que os concelhos da Área Metropolitana do Porto tivessem acesso ao Andante Metropolitano, com um custo mensal de 40 euros, que permitia circular entre concelhos de autocarro ou de comboio, quando na Linha do Vouga isso não acontecia. Lutámos por isso e foi com grande satisfação que testemunhei a entrada em vigor do Andante na Linha do Vouga, no passado dia 1 de maio. Ainda esta semana, por exemplo, participei numa ação de campanha na Feira de Espinho e pude testemunhar que muitos sanjoanenses usam esta linha para ir ao mercado semanal e agora podem fazê-lo com um só passe, usando a Linha do Vouga.

E quanto à reabilitação do Palácio da Justiça de S. João da Madeira, que Paulo Cavaleiro também já defendeu no Parlamento, está dependente de quê?
De continuarmos a trabalhar e a colocar o tema na agenda. Os sanjoanenses ouvem falar da necessidade de obras no Tribunal há anos. Pelo menos, desde 2016... E se já na altura era uma intervenção urgente, imagine-se com nove anos em cima. O Governo do PS estava consciente da necessidade da intervenção. O que fez? Anunciou um conjunto de investimentos nos tribunais do distrito de Aveiro, no valor de 22 milhões de euros, excluindo o de S. João da Madeira. Este Governo tem prevista para breve uma intervenção nas clarabóias, por forma a acabar com as infiltrações. A garantia que posso deixar aos Sanjoanenses é a de que o Tribunal tem um potencial enorme, está degradado, precisa de uma reabilitação e eu não vou desistir deste dossiê.

Nos últimos tempos, têm vindo a público notícias que dão conta da vontade do Governo em transferir para a Santa Casa da Misericórdia a gestão do Hospital de São João da Madeira, uma solução que esteve para acontecer em 2015 e que o PSD defendeu. Na sua ótica, o que tem a cidade e os Sanjoanenses a ganhar com essa mudança na gestão?
Compreendo que possa haver, por razões ideológicas, alguma oposição a esta questão. É importante frisar um ponto: é graças à Santa Casa da Misericórdia que S. João da Madeira tem um hospital. O hospital nunca deixou de ser propriedade da Misericórdia. E também foi graças à instituição que, outrora, o Hospital de São João da Madeira cresceu e se tornou num hospital de referência, num hospital distrital. Essa afirmação foi-se perdendo com o passar dos anos, o hospital foi definhando, foi perdendo valências. Em 2008, num Governo liderado pelo Partido Socialista, a urgência do hospital foi encerrada e o discurso do PS era de “confiança no Governo”, diziam que devíamos “aguardar serenamente pelas decisões” e, lamentavelmente, hoje o discurso é completamente contrário. Mas que ninguém duvide: o Governo está a trabalhar e há que ter confiança nas instituições. A Santa Casa da Misericórdia sempre teve à sua frente personalidades sanjoanenses que muito fizeram pela cidade, que têm um papel importantíssimo na rede social de São João da Madeira e que, como é óbvio, defenderão sempre o interesse do povo, garantindo um bom acordo dentro do SNS, que claramente reforce a capacidade do hospital. Acho, sinceramente, que a cidade e, sobretudo, os Sanjoanenses, ganhariam muito com a mudança de gestão do hospital para a misericórdia. Porque, no fim de contas, as pessoas quando estão doentes querem é ser bem atendidas.

Que outros problemas do concelho de S. João da Madeira urge resolver?
Há problemas que dependem do Governo, mas há outros que dependem exclusivamente da Câmara Municipal e da sua capacidade. Ao nível da gestão municipal, a cidade tem hoje problemas que não tinha há 10 anos e que foram criados por este executivo. É inconcebível o que acontece hoje ao nível da recolha de resíduos, em que os sanjoanenses pagam mais por um serviço claramente pior e que está à vista de todos. O mesmo pode dizer-se relativamente à falta de estacionamento de proximidade. Mas ainda mais inconcebível é, considerando as condições financeiras de excelência que este executivo herdou, não haver nenhuma marca, nenhuma obra de referência e diferenciadora nestes oito anos.

Mas que assunto lhe tira o sono neste momento, na sua cidade?
Claramente a falta de ambição. Este executivo é de uma incapacidade e uma inoperância gritantes. Os sanjoanenses não estavam habituados a isto e tinham orgulho nas conquistas da cidade. Recordo que, quando o PSD assumiu a Câmara Municipal em 2001, o município tinha uma capacidade financeira complexa. Tínhamos uma dívida elevada, que ascendia a 25 milhões de euros, e foi preciso muito rigor nas contas e uma verdadeira visão de futuro para podermos desenvolver estruturalmente a cidade e para construirmos um conjunto de obras que mudaram a cidade. Hoje, ninguém nega a importância da Oliva Creative Factory, da Casa da Criatividade, da Sanjotec I e II, do Museu da Chapelaria, dos Paços da Cultura, da Torre da Oliva, do Museu do Calçado, do Centro de Formação Desportiva, da Academia de Música, do Quartel-Escola dos Bombeiros Voluntários ou, até, do Parque Urbano do Rio Ul. Requalificámos e construímos escolas, requalificámos a habitação social, requalificámos e construímos novas infraestruturas desportivas. Se tivéssemos mantido esta dinâmica e esta ambição, a cidade hoje estaria num patamar de desenvolvimento e afirmação muito superior. Infelizmente, o Partido Socialista não fez nestes oito anos uma única obra para que pudéssemos, pelo menos, comparar com alguma das que construímos. Por exemplo, como é que se justifica que as piscinas não sejam hoje uma realidade? O projeto estava feito, o Dr. Jorge Sequeira prometeu-as em duas eleições e até hoje… nada. Na questão das piscinas, o PS voltou a falhar à cidade. Neste momento, o que há são projetos e promessas. Pouco foi feito. Por isso, pergunto: alguém acredita que um executivo que se limita a gerir o dia-a-dia, sem visão, sem estratégia e que não cumpriu o que prometeu, não honrou a palavra dada aos sanjoanenses, vai fazer em quatro anos o que não fez em oito? Duvido.

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