´O Regional´ começou por questionar os partidos com representação municipal. Debateu publicamente o assunto com especialistas. Esta semana os deputados da Assembleia da República eleitos pelo distrito de Aveiro dão a conhecer a sua visão
“Defendo que a Linha deve manter a bitola métrica”
O Plano ferroviário nacional prevê que a linha do Vouga seja a única linha de bitola métrica do país e que, por essa razão, funcione “separada da restante rede ferroviária”. Como é que olha para esta opção política? E que impacto acredita que pode vir a ter no desenvolvimento da cidade?
Em primeiro lugar, é importante sublinhar que o Plano Ferroviário Nacional (PFN), para além de ser importantíssimo para a ferrovia portuguesa, com novas linhas, novos itinerários, mais comboios e mais operação ferroviária, não esqueceu a Linha do Vouga.
Quem tiver a oportunidade de ler o documento, perceberá que há uma clara aposta nesta linha. O PFN é perentório e tem objetivos claros: ligar a linha do Vouga à linha do Norte, em Espinho, e integrar a linha na rede de serviços suburbanos do Sistema Metropolitano que inclui Aveiro e Porto.
Prevê-se que a Linha do Vouga, enquanto única linha de via estreita em Portugal, permita potenciar viagens de material circulante histórico. Parece-lhe que há potencial para criar turismo ferroviário? Ou, em alternativa, tornar as deslocações para o Porto mais rápidas e confortáveis é uma prioridade?
O principal objetivo desta linha é assegurar a mobilidade dos milhares de pessoas que vivem na nossa região. Apesar das enormes fragilidades da infraestrutura e do serviço, o número total de passageiros excede por ano os 600 mil, mostrando todo o seu potencial. Em termos comparativos, são transportados mais passageiros na Linha do Vouga do que na Linha do Oeste e na Linha da Beira Baixa, por exemplo.
A Linha do Vouga está inscrita no Plano Nacional de Investimentos 2030, com uma dotação de 100 milhões de euros, para o período 2021-2025. Aprovaria uma proposta em defesa da alteração da bitola da linha do Vouga entre Oliveira de Azeméis e Espinho, para permitir a circulação de comboio direto até ao Porto?
Defendo que a Linha deve manter a bitola métrica. Recorde-se que a linha de Guimarães foi readaptada para a bitola ibérica, sem ganho de velocidades. Mesmo que alargassem e retificassem a parte norte da Linha do Vouga, em detrimento de toda a região, os comboios que partissem de São João da Madeira, por exemplo, dificilmente teriam canais disponíveis na superlotada Linha do Norte. Os tempos de viagem continuariam elevados e superiores uma hora, o que é manifestamente pouco competitivo.
Considero mais sensato acompanhar o que está preconizado no PFN. Primeiro: assegurar a ligação da Linha do Vouga à Linha do Norte, em Espinho, construindo um novo interface, como acontece em Aveiro; segundo: criar uma estação intermodal na zona, onde a nova Linha de Alta Velocidade cruza com a Linha do Vouga. Só assim se pode assegurar um comboio para o Porto, com tempos de viagem inferiores a 30 minutos.
Como deputado, que medidas defende, ou já defendeu, relativamente a este assunto e que compromisso pode assumir?
Considero que devemos, desde já, apostar na renovação integral da via, corrigindo o traçado e, se possível, construindo variantes para aumentar as velocidades de operação. Paralelamente precisamos de dar nova vida às estações que estão em elevado estado de abandono, e construir parques de estacionamento contíguos às estações. Algumas delas têm de ser reposicionadas, junto dos novos aglomerados urbanos, e precisamos de construir novas estações junto às zonas industriais. Após a eletrificação da linha, será necessário apostar na compra de novos comboios.
Levar a discussão deste assunto à Assembleia da República é uma hipótese?
Estamos a equacionar propor, em sede de Plano Ferroviário Nacional, a criação de uma estação intermodal na zona, onde a nova Linha de Alta Velocidade cruza com a Linha do Vouga. Só assim se pode assegurar um comboio direto ao Porto com tempos de viagem reduzidos. Estamos a falar de viagens com tempo inferior a 30 minutos. Esse, sim, é o tema que deve ser discutido, o comboio direto ao Porto com comboios de média distância na Linha de Alta Velocidade.
“A ligação rápida e confortável ao Porto não é incompatível com a aposta no turismo”
O Plano ferroviário nacional prevê que a linha do Vouga seja a única linha de bitola métrica do país e que, por essa razão, funcione “separada da restante rede ferroviária”. Como é que olha para esta opção política? E que impacto acredita que pode vir a ter no desenvolvimento da cidade?
Esta opção política é, em minha opinião, pouco ambiciosa, e só compreensível à luz de uma intenção de investimento minimalista. Nesse cenário, a perspetiva de, a médio prazo, introduzir uma melhoria do desempenho em tempo, frequência e qualidade do serviço não ocorrerá, pelo que o benefício para S. João da Madeira será também mínimo.
Prevê-se que a Linha do Vouga, enquanto única linha de via estreita em Portugal, permita potenciar viagens de material circulante histórico. Parece-lhe que há potencial para criar turismo ferroviário? Ou, em alternativa, tornar as deslocações para o Porto mais rápidas e confortáveis é uma prioridade?
Naturalmente que ambas as opções têm vantagens e inconvenientes. É minha opinião que os benefícios que resultariam, para os concelhos servidos pela linha do Vouga, de uma ligação ao Porto mais rápida e confortável, seriam incomparavelmente superiores aos benefícios de uma aposta exclusiva, no turismo ferroviário, sobretudo pelo volume de população beneficiado com a solução. Realce-se, também, que a ligação rápida e confortável ao Porto não é incompatível com a aposta no turismo, antes pelo contrário, embora com uma visão distinta.
A Linha do Vouga está inscrita no Plano Nacional de Investimentos 2030 com uma dotação de 100 milhões de euros, para o período 2021-2025. Aprovaria uma proposta em defesa da alteração da bitola da linha do Vouga entre Oliveira de Azeméis e Espinho para permitir a circulação de comboio direto até ao Porto?
Sem qualquer dúvida. Julgo que essa é a solução que responderia verdadeiramente às necessidades de uma população metropolitana, e creio também que a população-alvo servida pela linha do Vouga. justificariam o investimento. Note-se que este é um momento, onde a aposta no transporte ferroviário parece ser consensual no país.
Como deputado, que medidas defende, ou já defendeu, relativamente a este assunto, e que compromisso pode assumir?
Desde a campanha eleitoral que o PSD defende uma requalificação efetiva, isto é, que corresponda a uma verdadeira melhoria da qualidade e eficiência do serviço da Linha do Vouga. Numa das nossas ações de campanha, partindo de Santa Maria da Feira, fui de bicicleta, partindo ao mesmo tempo do comboio, e tive que esperar 10 minutos pelos meus colegas na estação de Espinho da linha do Norte. Tal como está, a linha não é apelativa.
Há um lado mais difícil que é a inserção da Linha do Vouga na Linha do Norte, seja pela dificuldade de materialização física, seja pela falta de capacidade desta linha. Este é o momento para se ter esta discussão, já que, perspetivando-se a execução do comboio de alta velocidade, estes veículos rápidos libertarão canal na Linha do Norte, o que permitirá a acomodação dos veículos da Linha do Vouga. Estes passariam a ser tratados como comboios suburbanos do Porto, com os óbvios benefícios daí resultantes.
Levar a discussão deste assunto à Assembleia da República é uma hipótese?
Diria que mais do que uma hipótese, uma certeza, até porque o PFN será discutido na Assembleia da República.
“Tornar as deslocações para o Porto mais rápidas e confortáveis será a melhor alternativa”
O Plano ferroviário nacional prevê que a linha do Vouga seja a única linha de bitola métrica do país e que, por essa razão, funcione “separada da restante rede ferroviária”. Como é que olha para esta opção política? E que impacto acredita que pode vir a ter no desenvolvimento da cidade?
Como é expresso no Plano Ferroviário Nacional, e muito bem evidenciado na questão que formulam, a linha do Vouga, ao ser a única linha de bitola métrica do país, condena este tramo ferroviário ao isolamento, cristalizando-a como uma “ilha ferroviária”. Este facto acarreta, como consequência, a impossibilidade de interconetividade desta linha com as restantes linhas do país e constitui um entrave desnecessário ao desenvolvimento económico das empresas exportadoras da região e ao comércio, pois dificulta a circulação das mercadorias, que assim fica mais demorada e cara.
Prevê-se que a Linha do Vouga, enquanto única linha de via estreita em Portugal, permita potenciar viagens de material circulante histórico. Parece-lhe que há potencial para criar turismo ferroviário? Ou, em alternativa, tornar as deslocações para o Porto mais rápidas e confortáveis é uma prioridade?
Obviamente que este tipo de linhas, sendo anacrónicas e remetendo para um imaginário saudosista que o marketing turístico sabe trabalhar, se pode converter num trunfo turístico. O único problema é que os fluxos turísticos são inconstantes e sazonais pelo que, do nosso ponto de vista, mais importante do que satisfazer as necessidades dos turistas é satisfazer as necessidades dos cidadãos que todos os dias fazem, ou podem fazer, uso deste tipo de transporte para se deslocarem para o trabalho, irem a consultas ou às compras, visitar amigos, entre outros. Ou seja, tornar as deslocações para o Porto mais rápidas e confortáveis será a melhor alternativa.
A Linha do Vouga está inscrita no Plano Nacional de Investimentos 2030 com uma dotação de 100 milhões de euros, para o período 2021-2025. Aprovaria uma proposta em defesa da alteração da bitola da Linha do Vouga entre Oliveira de Azeméis e Espinho para permitir a circulação de comboio direto até ao Porto?
Sem qualquer dúvida, não só porque esse troço serve uma região com muita população, mas também porque se trata de uma área com forte potencial industrial, à qual o Estado deve proporcionar condições de desenvolvimento. A mudança para uma linha de bitola ibérica, ao servir o propósito de interoperacionalidade com a restante linha férrea, é um fator relevante para aumentar o potencial de atratividade económico da região e permitir a circulação de pessoas e mercadorias de forma mais rápida, segura, ecológica e barata.
Como deputado, que medidas defende, ou já defendeu, relativamente a este assunto e que compromisso pode assumir?
No âmbito da ferrovia o Grupo Parlamentar (GP) do Chega tem advertido o Governo para a importância de se construir a linha de alta velocidade em bitola UIC, evitando que Portugal se transforme numa “ilha ferroviária”, a nível peninsular e europeu, e para que se reabilitem os troços ferroviários do país que servem grupos populacionais relevantes e zonas com potencial de desenvolvimento económico. Os projetos existem, os fundos comunitários direcionados para suportar estes investimentos também, pelo que não se compreende a inércia do governo neste âmbito, a não ser pela incompetência e pelo laxismo.
Levar a discussão deste assunto à Assembleia da República é uma hipótese?
Obviamente que sim.