Jornal O Regional – O que está determinado pelo Partido Socialista fazer pelo distrito de Aveiro, em geral, e pelo concelho natal de Pedro Nuno Santos – S. João da Madeira – em particular?
Hugo Oliveira – Tem uma grande importância, desde logo, porque o nosso candidato, o nosso cabeça de lista às eleições, cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Aveiro, mas também candidato a primeiro-ministro. E isso é muito importante para darmos atenção a um setor importante para o nosso distrito e para o nosso país, como é o setor do calçado. Um setor que, embora tenha muitas potencialidades, embora tenha bastantes capacidades, mas que, neste momento, está a passar uma fase menos boa. É importante para nós termos contacto com empresários do setor do calçado, que nos possam ajudar ou que nos dêem um diagnóstico daquelas que são as suas potencialidades, mas também as suas dificuldades. Muito do nosso trabalho passa por uma questão de proximidade no terreno, entendermos aquilo que, depois, com o nosso trabalho da Assembleia da República, consigamos fazer algo que possa ajudar estes empresários a alavancar o setor do calçado.
Se for eleito deputado, qual será a sua grande prioridade para este distrito e, nomeadamente, para S. João da Madeira?
Nós temos tido um papel bastante importante neste distrito. O distrito tinha sérias dificuldades, do ponto de vista das acessibilidades, por muito que, para nós que estamos numa zona mais litoral, nos possa parecer estranho. Dou como exemplo Castelo de Paiva, Arouca ou Sever do Vouga. Eram todos concelhos com ligações bastante deficitárias. Falamos de ligações que eram pretendidas há décadas por aquelas populações. Foi com o Governo do Partido Socialista, aliás, foi com o Pedro Santos, enquanto ministro das infraestruturas, que passámos essas reivindicações, esses sonhos, a projetos concretos, a projetos com financiamentos garantidos.
Mas falamos não apenas das questões rodoviárias, falamos da questão da Ria de Aveiro, que tinha estado dezenas de anos e que, nos últimos anos, teve um investimento. E que olhamos para a Ria não apenas como uma questão de paisagem, mas como identidade, como economia, como futuro, e que queremos continuar a investir.
A linha do Vouga e a requalificação da ferrovia são uma das prioridades?
Claro que sim. A linha do Vouga é bastante importante para a zona sul, mas também para a zona norte, nomeadamente para S. João da Madeira, entendemos que a sua requalificação integral, desde Espinho a Aveiro, e onde queremos, evidentemente, pensar na sua ligação de Aveiro à Universidade de Aveiro e a Ílhavo, mas também numa nova ligação ao Porto.
Ao contrário daquilo que vamos ouvindo, mas que, ao dia de hoje, percebemos que tem sido abandonada por este Governo, atendendo que o Plano Ferroviário Nacional, que foi agora publicado pelo Governo, mantém aquilo que tinha sido deixado pelo Governo do Partido Socialista, que era a bitola métrica. Mas vamos falar não só da requalificação, mas de uma ligação em que, onde irá existir o cruzamento entre a nova linha de alta velocidade e a linha do Vouga, poderia haver aí uma estação intermodal. E, aí, sim, podemos estar a falar de uma ligação ao Porto de S. João da Madeira, à Área Metropolitana do Porto, em sensivelmente 15 a 20 minutos.
“Não chega requalificar. É preciso mesmo construir novo”
E, em relação à saúde, defende a passagem do hospital da cidade para a Misericórdia, como foi anunciado pelo Governo de Luís Montenegro?
Isso seria um enorme erro. O Hospital de S. João da Madeira tem sido alvo de enormes investimentos por parte do Serviço Nacional de Saúde. Relembro que não estou sequer a falar naquela que era uma vontade de 2015. O Hospital de S. João da Madeira, em 2015, apenas para dar um exemplo, fazia cerca de 2.000 cirurgias.
Acabou o ano passado a fazer 11.000 cirurgias. Portanto, é um hospital que tem sofrido bastante investimento, que já não é apenas um hospital de S. João da Madeira, já é um hospital regional e que iria sofrer bastante com a sua retirada do Serviço Nacional de Saúde.
Ao contrário do que diz, ele não ia ter mais investimento, ele não ia ter mais serviços, ele não ia estar mais capacitado. E, por isso, é que o que nós dizemos é que acreditamos na vitória e, com a vitória do Partido Socialista, o Hospital de S. João da Madeira irá continuar a ter gestão pública e continuará, evidentemente, a ter o investimento que tem tido ao longo dos últimos anos.
Como se resolve o problema da habitação na região e na cidade?
A habitação é uma questão desafiante. Não é apenas em S. João da Madeira. O Governo fez, ao longo dos últimos anos, investimentos que agora vão começar a dar fruto, nomeadamente nas estratégias locais de habitação.
Nós temos até alguns investimentos que vieram ainda do Governo do PS, em que tínhamos alguns edifícios públicos, nomeadamente o da PSP. Agora, nós temos que continuar a investir na habitação pública.
Mas em S. João da Madeira foram requalificados vários bairros…
Não chega requalificar. É preciso mesmo construir novo. E é preciso construir novo para a classe média. Não apenas para quem tem mais dificuldades, porque a classe média hoje não consegue aceder à habitação. E isso tem de ser uma prioridade do Estado. Nós vamos ouvindo, durante muitas vezes, dizer que um dos problemas do país é o Estado, é haver demasiado Estado.
E eu costumo dizer que, se há algo contrário a isso, é a habitação, que é onde o Estado nunca esteve, onde o Estado não interveio e onde temos grandes dificuldades.
Olhamos para países como a Holanda, que estão longe de dizermos que são governados por ideologias socialistas, em que têm um parque habitacional de cerca de 30% público.
Em Portugal temos um parque habitacional público de 2%. Isso impede o Estado, limita o Estado de fazer políticas de habitação.
Portanto, nós temos que construir muito. E construir muito para a classe média.
“O governo tem de dar condições aos empresários”
O que é que os empresários de S. João da Madeira podem esperar da sua parte, se for eleito na Assembleia da República?
O governo tem de dar condições aos empresários. E as condições que o empresário precisa é de nós, cada vez mais, termos mão de obra e mão de obra qualificada. É muito importante nós conseguirmos que as universidades, cada vez mais, estejam junto das empresas. A separação que nós tínhamos há uns anos, que temos vindo a diminuir, entre o conhecimento científico e as empresas, nós temos que a reduzir totalmente. Quanto mais conhecimentos tivermos junto das empresas, também teremos empresas mais qualificadas. E empresas qualificadas serão mais competitivas.
O setor do calçado é um exemplo disso?
Exatamente. Nós tivemos, no início de 2000, uma crise grande no setor do calçado. E os empresários conseguiram transformar-se, produzir calçado de maior qualidade. E isso foi fruto de trazerem conhecimento para as suas empresas. É isso que nós temos que continuar a fazer. Atualmente, não temos que produzir cinco milhões de pares de sapatos. Se calhar, temos que produzir um milhão, mas esses têm de ser o melhor daquilo que se faz no mundo.
Entendo que esse é o caminho que tem de ser feito e, para isso, precisamos, evidentemente, de muito conhecimento, de muita qualificação. E é aí que o Estado entra.
Nas últimas eleições, Pedro Nuno Santos não passou por S. João da Madeira durante a campanha eleitoral. Ainda não há uma data conhecida para a sua vinda à cidade. O PS não sente que será importante esse contacto com a população sanjoanense?
O Pedro já passou, durante esta campanha, várias vezes por S. João da Madeira. Mas não foi em campanha. E ele vem cá muitas vezes. E ele sente-se na sua terra, aliás. Ele, mesmo durante esta campanha, já esteve aqui várias vezes.
Esteve aqui há dois ou três dias e vai estando. Não é questão de virmos diretamente em campanha. Ele vem cá… várias vezes, mesmo durante a campanha.