Não podes ser um homem com a cama por fazer.
Encurralado, desligado, vazio... É só escolher a palavra que mais se adapta ao nosso estado de espírito.
Caminhar, dando voltas à mesa, olhar para as centenas de livros, as mesmas centenas de discos. Caminhar até à cozinha, pegar num copo com um pouco de Dão ou mesmo de Douro ou Alentejo. É Dão, para estas ocasiões é o que está mais à mão... Saborear... Continuar envolvido, tentando sair da névoa que me envolve. Procurar a poesia. É só mentir ou rimar, ou talvez não. Ela está lá... Descobrir uma musa. Já a tenho e é extremamente inspiradora, motivadora. É uma força da natureza... é uma forte razão para que não haja desistências. Digo e repito muitas vezes é o meu doping.
De repente, sem darmos por isso, a vida passa, por vezes a uma velocidade descontrolada. Põem-nos um carimbo: reformado, aposentado. Esqueçam-no, já não existe, isolem-no, vá lá, deem-lhe um subsídio para não morrer à fome. Se possível tirem-lhe os amigos, certo é que eles não foram muitos, eram poucos mas bons! Isto será outra questão... o que é um bom amigo!

Dão-nos oportunidades para nos inscrevermos num clube de sueca e corremos o risco de não sermos aceites (não somos grandes jogadores). Podemos tentar o King, o jogo de cartas com as cinquenta e duas cartas. Este é mais difícil arranjar parceiro. Nesta altura alguns dos leitores estarão a pensar: ”há tanto tempo que não jogo um King.” Nos tempos que correm existem outras oportunidades: inscrever num daqueles programas de televisão para ouvirem a nossa opinião, que não vai servir para nada, mas sempre é um passatempo.
Depois, a saúde... Felizmente vamos indo bem. Por outro lado, há milhares que não podem fazer afirmações destas. Não se apoquentem com o que aqui vou escrevendo... Sinto-me bem e cheio de vontade de ainda realizar montes de coisas para juntar às que fui fazendo.
A vida é feita de altos e baixos. Vou-me esforçando para que não seja definitivamente em baixo. Não vai longe o tempo em que dizíamos que a velhice era um posto, e curiosamente ou não, até conseguíamos respeitar os mais velhos... Enfim, sinais dos tempos.
Na música, a pianista Maria João Pires a tocar Chopin.
Nos livros, “A 25ª hora”, de C. Virgil Gheorghin.
Sejam felizes!