Opinião

Vamos continuar a permitir tantas casas vazias quando há tanta gente sem casa?

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Fixe este número: 7%. É quanto as rendas vão aumentar no próximo ano. Por causa do Governo, em 2024, vamos sofrer com o maior aumento de rendas dos últimos 30 anos. Aumentos enormes em cima de rendas absurdas que já poucos podem pagar.
A habitação é o principal fator de empobrecimento. Em São João da Madeira é por demais evidente.
Há poucas semanas uma trabalhadora de um supermercado localizado aqui no concelho contava-me a sua história: vive com o seu marido e dois filhos. Ela e o marido trabalham e, claro, recebem um salário. O seu contrato de arrendamento está a acabar e o senhorio comunicou a não renovação. Em São João da Madeira não conseguem arranjar um apartamento que consigam pagar. Trabalham e têm dois salários, mas mesmo assim não conseguem pagar um apartamento! Esfalfar-se a trabalhar já não é suficiente para assegurar a habitação. É o cúmulo da indignidade!
Esta (e tantas outras histórias semelhantes) deviam fazer o Primeiro-Ministro e o Presidente da Câmara corarem de vergonha. Aumentar as rendas em 7% e as rendas de habitação social em 30% em plena crise de habitação só pode criar uma enorme crise social.
Está visto que o Orçamento do Estado para 2024 implica empobrecimento. A dúvida é se o Orçamento Municipal seguirá os mesmos passos e aprofundará ainda mais a injustiça e a desigualdade social.
Será que vai ser em 2024 que finalmente se procederá à posse administrativa das centenas e centenas de apartamentos e casas devolutas em São João da Madeira?
É indigno e imoral que existam 1000 (mil!!) alojamentos familiares vagos e casas abandonadas em São João da Madeira e, ao mesmo tempo, haja tanta gente que não consegue encontrar uma casa para viver. Mais indigno ainda é que a Câmara Municipal pura e simplesmente não faz nada sobre isto. Deixa correr o marfim, deixa as rendas aumentar, deixa as crise alastrar… Isto quando podia pôr fim a tudo isto.
Essa propriedade abandonada, devoluta, alguma degradada, quase em ruína pode e deve ter um fim social. Imaginem disponibilizar, de repente, mais 500 ou 600 apartamentos com rendas controladas. Imaginem o que era mobilizar todas essas casas vazias para que as pessoas pudessem viver nelas.
De repente poderíamos todos viver em São João da Madeira com rendas que os nossos salários podem pagar. De repente não seria preciso ficar em casa dos pais até depois dos 30 anos.
É que a propriedade não é um valor absoluto. Ela tem de ter utilidade. Vazia não tem qualquer utilidade, apenas serve para aumentar a crise da habitação.
Esta é a medida que pode resolver os problemas de habitação em São João da Madeira. É preciso coragem, é certo. Mas se os eleitos para o Executivo Municipal não têm coragem então não estão lá a fazer nada.
A pergunta é simples: é justo vermos pelas ruas centenas e centenas de casas abandonadas ao mesmo tempo que sabemos que há cada vez mais famílias com a corda na garganta para pagar a renda? Não, não é justo. E há que fazer algo sobre o assunto.

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