Opinião

Um príncipe da dissimulação

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Afinal o que Putin tinha em vista não era evitar que a Ucrânia aderisse à Nato; também não estava preocupado em proteger os cidadãos das duas províncias do leste da Ucrânia, supostamente desejosos da proteção da Rússia; o que Putin verdadeiramente tinha em vista era o sonho de restaurar o antigo império russo e restabelecer tanto quanto possível as fronteiras da antiga União Soviética. Isto ficou claro no seu discurso de 21 de fevereiro, onde disse, preto no branco, que a Ucrânia como país independente era uma ficção.
Durante semanas Putin enganou descaradamente o mundo todo. Mentiu a todos os líderes europeus que o visitaram. Putin é marcadamente um mestre da dissimulação. Um príncipe da dissimulação! Invade a Ucrânia e enquanto se ouve o estrondo das bombas e se vê devastação por toda a parte, Putin convida os Ucranianos para negociações, fazendo saber que o seu objetivo é desmilitarizar e ‘desnazificar’ a Ucrânia. Ou seja: quer a seu lado uma região da Rússia com um governo por si escolhido e não um estado independente. Quer na Ucrânia um governo fantoche, como já conseguiu na Bielorrússia. Perante estas intenções o que faz a europa? Depois de algumas horas de hesitação, os europeus, e o ocidente em geral, começaram a dar uma resposta adequada. A Nato não pode combater na Ucrânia porque os seus estatutos lhe proíbem intervir fora das fronteiras dos países membros. Também não se pode constituir uma força militar internacional porque tal carece de uma deliberação da ONU, que a Rússia sempre vetaria por ser membro permanente do Conselho de segurança. Resta à Europa fazer o que está a fazer, e bem: sanções económicas, pressão política, mostrando unidade e determinação.
Putin pode vir a tomar Kiev. Pode até conquistar a Ucrânia. Mas já perdeu definitivamente o respeito do mundo civilizado. Mesmo aqueles que o toleravam por ser cerebral e cauteloso, compreenderam agora que este homem não é confiável, é um dissimulado, não tem qualquer respeito pelos direitos humanos ou pelas leis internacionais e que tudo fará para não ter países democráticos na sua vizinhança.
A Rússia é um gigante militar, mas um anão económico. A sua riqueza total é pouco superior à da Espanha. E a riqueza média dos seus cidadãos dá para comprar metade do que compram os portugueses.
Sabendo que não tem condições de competir com as grandes potencias pelo lado da economia, Putin quer mostrar a força do seu exército. E sabe também que uma guerra na frente externa é a melhor forma de gerar internamente coesão e unidade, tornando mais fácil suprimir a voz dos seus adversários internos.
A médio prazo, Putin vai perder. Só tenho um receio: que o ocidente possa cair na tentação de levantar todas as sanções económicas, desportivas e outras, em troca de uma negociação que faça Putin voltar para casa. O que ele já fez não merece perdão.
O ocidente não pode esquecer o mal que está feito. Esta invasão da Ucrânia mostra de que massa é feito este príncipe da dissimulação que dá pelo nome de Putin.

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