Opinião

Um país de contrastes

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1. Somos um país especial. Um país de contrastes e um país de extremos. Somos capazes do melhor e do pior ao mesmo tempo. Em praticamente todas as áreas do Estado ou da sociedade. Os exemplos existem por todo o lado. Na vacinação somos uma referência na Europa e no Mundo. Até a poderosa Alemanha nos copia, nomeando um general para fazer lá o que o Almirante Gouveia e Melo fez cá dentro. Mas, ao mesmo tempo, temos a Saúde num estado calamitoso. Só não está pior graças à notável dedicação e resistência dos nossos profissionais.
Na Justiça acabámos de saber da fantástica operação desencadeada pela Polícia Judiciária para apanhar João Rendeiro e o obrigar a pagar pelo que fez. Mas há poucos meses foi uma outra parte da Justiça que, por imprudência, laxismo ou negligência, criou as condições para que ele desse o salto e fugisse às suas responsabilidades.
No Estado temos uma Administração Tributária que é um exemplo de rigor, profissionalismo e eficácia inacreditáveis. Às vezes até de mais. Mas, ao lado, no mesmo Estado e na mesma administração pública, temos departamentos anquilosados e obsoletos que até nos fazem impressão.
No entretanto, todos os meses temos notícia de portugueses em alta no estrangeiro. Portugueses que fazem sucesso lá fora, na banca, na saúde, nas universidades, na ciência e na tecnologia. Já para não falar no mundo do futebol. Ao mesmo tempo, cá dentro, queixamo-nos da produtividade que não aumenta, dos défices de gestão que não diminuem, do profissionalismo que amiúde cede o seu lugar à permissividade e ao laxismo.

2. Quase sem nos darmos por isso, a solução para resolvermos os nossos grandes problemas está dentro dos enormes sucessos que temos tido. Falhamos na Saúde porque não temos aí a capacidade de liderança e de organização que foi imprimida à Task Force da Vacinação. Falhamos amiúde na Justiça porque a cada passo falta nessa área a competência invulgar que possui na investigação criminal a nossa Polícia Judiciária. Falhamos na Administração Pública porque os vários governos não têm sabido dar a esse sector a prioridade modernizadora que a área dos impostos teve. Temos sucesso lá fora e não o replicamos cá dentro porque nos falta ambição, mobilização, espírito de urgência e de empreendimento.
A chave do sucesso escreve-se, afinal, em poucas palavras e palavras simples: liderança, organização, profissionalismo, competência e ambição. Tudo isto é mais importante que despejar dinheiro em cima dos problemas. Talvez não fosse má ideia discutir o tema nesta campanha eleitoral. Exigir que cada um explique ao que vem. Para que quer o poder. Que soluções propõe. Que ambições abraça. Que objectivos sufraga. Que causas tem e que diferenças apresenta. Que liderança oferece. Pelo andar da carruagem, temo que isto não vá acontecer. E, se tal não acontecer, é caso para dizer que o debate está enviesado. Que se volta a discutir o acessório e se passa ao lado do essencial. Não é um hábito muito saudável. Mas é, infelizmente, muito português.

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