1. Estamos a chegar ao fim de um ano absolutamente louco. Começou com o frenesi dos casos e casinhos em redor das trapalhadas da TAP, que consumiram meio ano de notícias e especulações; continuou com o espetáculo degradante de violência no Ministério de João Galamba, sem que o próprio se demitisse ou fosse demitido; e acaba com uma crise política absolutamente insólita e inesperada: a polícia fez buscas inéditas em S. Bento, até descobriu dinheiro vivo escondido no Palácio, e empurrou o PM para uma demissão sem dó nem piedade. Maior loucura política era difícil.
Por dois anos consecutivos, António Costa suscita as atenções do ano. Em 2022, porque cometeu a proeza histórica de alcançar, sozinho, uma maioria absoluta para governar. Em 2023, porque é o responsável pela sua destruição. Enquanto os portugueses se lembrarem do que foi este ano e meio de governação, não mais darão a qualquer partido uma maioria absoluta. As anteriores maiorias absolutas, de Cavaco Silva e José Sócrates, tiveram defeitos e falhas. Mas, desta vez, houve casos a mais: de arrogância, de degradação, de conflito institucional, até de buscas judiciais no centro do governo. Uma loucura.
2. Acaba o ciclo de António Costa. Vai abrir-se um novo ciclo. O ciclo protagonizado por Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. São ambos do distrito de Aveiro. Mas essa é, provavelmente, a única semelhança entre eles. Em tudo o resto são radicalmente diferentes. Há muitos anos que não havia uma eleição nacional com dois candidatos a PM tão profundamente diferentes. É nas ideias, nas propostas, no estilo, no modo de fazer política. Esta diferença é uma vantagem: facilita a escolha dos eleitores e até pode reforçar a mobilização popular na hora do voto.
Convinha, porém, que este ciclo não ficasse marcado apenas por críticas pessoais e ataques políticos. Convinha que ambos os candidatos à chefia do governo fossem capazes de ir além da mercearia política. Convinha que os potenciais sucessores de António Costa nos dissessem ao que vêm, o que propõem e o que defendem.
O que os portugueses querem saber é como se põe a economia a crescer mais; como se inverte a degradação do SNS; como se faz da escola um local de ensino profícuo e não um campo de boxe entre sindicatos e governo; como se resolve o défice da habitação; como se aumentam os salários e se combate a pobreza.
Há quase 50 anos, Francisco Sá Carneiro, uma figura hoje respeitada por todos, à esquerda e à direita, dizia: “Portugal é um País em que os mais velhos não têm presente e os mais jovens não têm futuro”. Cinquenta anos depois, o dilema não é muito diferente. Precisamos de maior solidariedade para com os mais idosos. E de gerar maior esperança nos mais jovens. Eu acredito que é possível. Por isso, acredito num ano melhor. Com mais paz no mundo e maior esperança em Portugal. Um bom ano para todos os Sanjoanenses.