Quando me propus escrever sobre o tema em epigrafe, logo me veio à memória um nome que quase por toda a gente no ocidente foi admirado. Falo do eletricista nos estaleiros navais de Gdansk, um dos fundadores do movimento sindical “Solidariedade”, foi presidente polaco, recebeu o prémio Nobel da Paz. Bem, estou a escrever sobre Lech Walesa.
Hoje em dia torna-se fácil sermos solidários, um pacote de arroz ou de leite ou de outra coisa qualquer e, pronto, aí está o contributo... Acreditem não há nenhuma crítica da minha parte, penso até de que se tivermos possibilidades temos de continuar nesta forma de solidariedade.
O meu primeiro contato com a palavra solidariedade, no seu verdadeiro sentido da palavra, foi nos anos sessenta do século passado. Jogava numa equipa jovem de basquetebol dos Olivais de Coimbra. A direção do clube resolveu prescindir do jovem, que na época nos treinava... e, ato contínuo da nossa parte, e através da minha pessoa que era o capitão da equipa, comunicamos à direção de que a equipa não se apresentaria no jogo de domingo com a Académica se não readmitissem o nosso treinador.

Bem! Isto era lá possível, uma cambada de putos fazerem uma coisa destas!!!! Claro, fui chamado à direção... quem me recebeu no seu gabinete foi uma pessoa que nós gostávamos, um intelectual ! E disse-me: “Margalho, a solidariedade é uma coisa bonita, mas não é fácil...” Olhei para ele e fiquei a pensar: “Puxa, que palavra cara!” E respondi-lhe: “Doutor, pode dizer o que quiser, mas o Peixinho é que tem de voltar, senão não jogamos no domingo.” Estava convicto que nenhum dos meus companheiros de equipa me ia abandonar. O treinador voltou para a equipa e com este episódio fiquei a saber que ser solidário é algo que nos eleva, que nos torna mais fortes.
Mau é quando esses movimentos não são suficientemente fortes e são quebrados por pessoas que julgamos serem nossos amigos. Enfim! Pela parte que me toca ao longo da minha vida sofri bastantes desilusões. Bem, mas faz parte da vida e faz-nos crescer enquanto pessoa. Mas, para equilibrar a balança também fui feliz quando me disponibilizei para ser solidário. A solidariedade deve vir de dentro de cada um de nós e não algo que irei colecionar para ficar bem na fotografia, ou não!?
Nas músicas, o lançamento do disco “Tanto mais”, da Sofia Escobar.
Nos livros, “Morreste-me”, de José Luís Peixoto.
Sejam solidários...