Pronto, algum dia tinha de ser... Escrever sobre a solidão. Não é possível... com tantos livros, instrumentos musicais à minha volta prontos a darem-me algum mimo, sem se chatearem com as minhas falhas. Com o meu fiel companheiro, sempre pronto para uma escapadela, e o meu gato, esse sim, mestre da solidão. Mas, curiosamente, é ele que não se esquece da minha existência e pé entre pé vem pousar no meu colo. Solidão?
Até temos o melhor gin de Portugal... Bem, acho um exagero! Enfim, teríamos de os provar a todos. Não consigo ser fã. Será uma ajuda em caso de solidão?! A minha solidão é uma brincadeira, é alguém a falar da fome de barriga cheia. A solidão infelizmente existe, não o isolamento voluntário, mas aquele que é proscrito, abandonado, marginalizado... essa solidão doí. É aquela dor que nos mostra o quanto egoísta somos. O quanto incapazes somos de ajudar quem de facto só necessita de um prato de sopa e de uma palavra de momento. Somos uma sociedade distraída, com a capacidade única de só olharmos para o nosso umbigo. Aí sim, somos os reis da solidão pintada de cor de rosa, da fuga da realidade, porque a realidade dói, dói e de que maneira, e atrapalha... Fazemos todos como aquela que mete a cabeça na areia.
Deixei-me embalar pelo meu momento de solidão, mas, naturalmente não deixo de pensar nas organizações cuja sua maior preocupação é de que não existam pessoas sós. A escrita pode ser um momento de solidão, de enorme prazer... porque quando o fazemos sentimos o calor das pessoas que nos leem, e, nesse momento a solidão desvanece-se.
Na música, “Meu Lugar” de André Duarte.
Nos livros, “Onde” de José Luís Peixoto.
Se sentirem sós vão à janela e gritem a plenos pulmões, a indiferença vai ser gritante... Continua a gritar até que a garganta vos doa. A partir daí nunca mais vai haver solidão...