Opinião

‘Sem passagens’

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Foi difícil, mas aos poucos lá foram apare­cendo as novas paragens de TUS em São João da Madeira. Foi um processo lento e um tanto ou quanto ata­balhoado, mas pronto, lá estão elas. Agora só faltam os autocarros. Como candidamente nos lembram os painéis eletrónicos nas novas paragens, sem autocarros as paragens ficam ‘sem passagens’.
Recapitulando rapidamente:
Primeiro, a colocação dos novos abrigos de passageiros demorou meses. Não porque fosse uma obra de monta, mas porque a Câmara foi acusada de plagiar o design, o processo paralisou a substituição das estruturas e levou ao pagamento 77 mil euros de indemnização.
Depois veio a peripécia dos painéis informativos. A Câmara tinha anunciado que os novos abrigos iam ser equipados com painéis informativos sobre horários e frequência de autocarros. Acontece que quando foram ligados, os painéis mostravam uma data de 1970 (verdadeira máquina do tempo) e anunciavam carreiras para localidades francesas.
Durante muito tempo, alguém na paragem junto ao Mercado Municipal poderia, pelo menos segundo os painéis ali pendurados, entrar no autocarro e seguir até Bruguiers ou até Castelginest. Não porque o TUS se tivesse internacionalizado ou aberto rotas para a Occitânia, mas porque, pelos vistos, ninguém sabia mexer ou configurar o equipamento.
Entretanto, a indemnização foi paga, os abrigos colocados, alguém encontrou o manual de instruções dos painéis e eles parecem estar finalmente sintonizados com esta terra e com este tempo. O problema agora é simplesmente o seguinte: faltam os autocarros.
À Câmara Municipal pode parecer um pormenor, eu sei. Talvez seja picuinhas, admito, mas tenho cá para mim que um serviço de transportes precisa de veículos para transportar as pessoas. E que esses veículos precisam de ter rotas e horários condizentes com as necessidades da população, frequência e rapidez para serem verdadeiros substitutos do transporte individual.
É esse o pequeno aspeto que tem sido esquecido. Temos abrigos de desenho plagiado e painéis vindos da Occitânia. Falta-nos é o que nos leve de um lado para o outro com conforto e rapidez.
Lembrei-me disto quando ao passar por uma destas paragens olhei para o painel eletrónico e li em letras garrafais: ‘sem passagens’. Ou seja, não estava previsto a passagem de nenhum autocarro. Nem dali a uma hora, nem dali a meio dia, fosse para a Mourisca fosse para Castelgenest. É que a partir do final da tarde ou no sábado à tarde, por exemplo, esse é o único estado do TUS: ‘sem passagens’.
E o problema não fica aqui: os horários estão desajustados dose horários das escolas e das zonas industriais; a frequência é baixíssima (quem está para esperar 50 minutos por um autocarro?) e há situações em que entre o ponto de partida e ponto de chegada se demora mais do que fazer o caminho a pé (veja-se o exemplo da linha azul, entre o mercado e o tribunal pode-se demorar quase 30 minutos).
O transporte público é importante para a população de São João da Madeira. Para fazê-lo funcionar nem é preciso nada do outro mundo. Bastava criar mais duas ou três linhas do TUS (garantindo assim que os circuitos para deslocação de um ponto ao outro da cidade são mais curtos) e aumentar frequência de autocarros (de 15 em 15 minutos é o que se utiliza em tantas cidades, por que não aqui também?).
Agora que já temos abrigos plagiados e ecrãs reformatados, será que podemos ter uma rede de TUS a sério? Agora que os ecrãs já não nos interpelam em francês, será que podemos fazer com que a sua mensagem não seja ‘sem passagens’ por falta de autocarro?

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