O país tenta de alguma forma retomar ao nível económico pré-pandemia, e tanto as empresas como a indústria, enfrentam um novo travão que desacelera as perspectivas mais otimistas em vários setores, a falta de matéria-prima.
As notícias não são animadoras e os motivos apresentados são os mesmos! De Norte a Sul do país a escassez de matéria-prima é um “novo” desafio que poucos anteciparam!
As consequências são limitadoras e condicionam as estratégias comerciais e produtivas.
Em março, a Autoeuropa a maior empresa exportadora de Portugal fechou portas durante uma semana. Motivo: Distribuição condicionada de semicondutores (chips) na indústria automóvel, mais recentemente a mesma empresa anunciou o fecho de 25 a 28 de junho pelo mesmo motivo, reforçando que em 2021 já foram cancelados 57 turnos de trabalho. Em abril, a PSA Mangualde parou seis dias e ajustou a produção de veículos. Motivo: Falta de semicondutores. Em maio, a Bosch em Braga, devido ao pouco fornecimento de componentes eletrónicos, acedeu ao regime de lay-off e os 3700 colaboradores só voltaram ao trabalho a 9 de junho. Em São João da Madeira nos últimos três meses, uma larga maioria das empresas reduziu turnos, contrataram menos, desativaram temporariamente setores de produção e em alguns casos foram mesmo obrigadas a fechar uns dias!
Mas existe lógica por trás desta situação?
Pesquisas mostram que 47% das indústrias estão com dificuldades para aceder a matérias-primas e mercadorias, e o stock atual já está bem abaixo do pretendido, considerando a expectativa de vendas nos próximos meses.
Uma combinação de fatores demonstra que a procura contida durante a pandemia, gerou uma falta de regularidade entre a oferta e a procura, o que se refletiu em determinados produtos e materiais. A intenção de repor stocks e matérias-primas pelas indústrias é tão grande que a produção de matérias-primas não foi totalmente reestabelecida. Além disto, a desvalorização da moeda e a forte tentativa de retoma económica são outros fatores a ter em conta.
Um bom exemplo disso e de simples compreensão, é o que está a acontecer num dos setores que obteve um forte impulso durante a pandemia devido ao aumento de entregas de alimentos através do delivery e do crescimento de compras online, as embalagens plásticas e cartão. Entretanto, o setor já começa a dar sinais de ter pouca quantidade de matéria-prima!
Os problemas são semelhantes em grande parte das atividades, o que torna mais lenta a retoma do mercado económico a níveis atingidos em pré-pandemia, como um mal nunca vem só, o setor produtivo foi também surpreendido com o aumento do custo material o que implica nos preços dos produtos ao consumidor final, agravado com a falta de abastecimento advindos do mercado externo.
Temos que ter a consciência que esta preocupação é global, e se a indústria não conseguir ter bens ao consumo intermédio, se não conseguir ter matéria-prima, se não conseguir finalizar a produção dos nossos produtos, muitos dos quais de exportação, obviamente aquilo que foi o desempenho e a performance das nossas exportações, que até ao mês de março estavam com uma avaliação positiva, pode regredir!
Este cenário de incertezas faz parte do quotidiano das empresas e indústrias dos mais variados segmentos. Neste momento, a pandemia e suas consequências apenas demonstram que é preciso, cada vez mais, criar alternativas para enfrentar os desafios que estão por vir. Contudo, uma vez adequado esse desequilíbrio, a tendência será a regularização do mercado, com o possível retorno dos preços e a normalização de escassez da matéria-prima. Será também importante diminuir a dependência de outros mercados.
Ser-se competitivo no futuro, será bem mais difícil do que ser competitivo nos últimos anos.