Opinião

Se isto é Unir vou ali e já venho (se houver autocarro)

• Favoritos: 134


O caos está instalado. Pessoas que chegam às 7 da manhã à central de camionagem para descobrir que o autocarro que costumavam apanhar para o trabalho foi suprimido; outras que passaram a ter de penar numa fila para ter um lugar sentado; e ainda aquelas que descobriram, em plena viagem, que as rotas foram alteradas e que agora o autocarro não para onde elas queriam sair.
Chamam a isto Unir. E dizem-no conseguindo não se rir.
Prometeram autocarros modernos e ecológicos, mais conforto, mais rapidez, mais interligação. Afinal, mantiveram os bem conhecidos machimbombos a rodar na estrada, suprimiram horários, alteraram rotas e deixaram centenas apeados nas paragens. Hoje há menos autocarros, mais tempo de espera e muito mais pessoas que não conseguem chegar a horas ao emprego ou à universidade.
Partilho duas histórias da “Unir” (é preciso colocar mesmo muitas aspas neste nome) que me contaram nos últimos dias.
A primeira: alguém que queria apanhar o autocarro do Porto para São João da Madeira dirige-se ao local e como não vê nenhum autocarro preparado para iniciar viagem vai perguntar o que é feito do das 15h. Respondem-lhe: não há nenhum autocarro às 15h. Ele mostra-lhes o horário previsto e o motorista descobre, para sua grande surpresa, que deveria estar a conduzir um autocarro para São João da Madeira naquele preciso momento. Pelos vistos não tinha isso na escala de serviço. A segunda história, esta de São João da Madeira para o Porto: um autocarro sobrelotado que na última paragem antes de entrar na autoestrada decide apear uma série de passageiros que foram entrando mas que não tinham lugares sentados. E ali ficaram, longe de casa e longe do destino, à espera que a boa sorte lhes trouxesse um outro autocarro, sabe-se lá quando.
Perante o caos, os presidentes de Câmara e os responsáveis da Área Metropolitana do Porto desculpam-se com o facto de tudo isto ser muito recente. Mais uma vez dizem isto conseguindo manter cara séria perante a facécia. O concurso para esta operação foi lançado em 2020. Em mais de 3 anos não conseguiram planear isto de forma a não dar cabo da vida das pessoas?
Essa desculpa não cola. O problema é este: é que muitos destes autarcas nunca quiseram saber dos transportes públicos, muito menos de uma política de transporte público.
Veja-se São João da Madeira: o Vouguinha continua, governo após governo, na sua lenta agonia. Podia ser um transporte público que as pessoas usassem no dia a dia? Claro que podia. Mas Câmaras e Governo não querem isso. E o TUS? Continua nas suas duas linhas, longas e lentas, com horários que não servem quem vai para a escola ou para o trabalho. Enquanto este transporte urbano não rivalizar em tempo e conforto com o carro não será uma alternativa. E não, demorar uma hora para percorrer meia dúzia de quilómetros não é ser uma alternativa.
Ora, esse não querer saber dos transportes públicos está agora visível em todo o seu esplendor na famosa rede Unir. O primeiro passo para que aquilo funcione é ter autarcas e Câmaras Municipais que querem que os transportes públicos funcionem. E isso não é coisa fácil de encontrar.

134 Recomendações
916 visualizações
bookmark icon