Opinião

Requalificar (não politizar) a Avenida do Brasil

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Tem sido animado acompanhar a tinta que o assunto tem feito correr na imprensa local e as plataformas digitais das forças partidárias de São João da Madeira. Efetivamente, cabe aos partidos representar as pessoas e, para tal, é fundamental que as ouçam. Por isso, esteve bem a Câmara Municipal ao convocar moradores e comerciantes da Avenida do Brasil para apresentar o projeto de requalificação da mesma.
Nem todos os municípios tomam ações de democracia tão vincadas e de apelo à participação cidadã (recorde-se que esta é uma tendência do executivo de Jorge Sequeira, não tendo sido a primeira vez que a autarquia promoveu um momento de apresentação de projetos da cidade, por forma a colher feedback das pessoas afetadas pelas intervenções). Esse era o momento - principal, pelo menos - para se ouvirem as pessoas afetadas mais diretamente por essa intervenção e deveria, por isso, bastar para que se parasse até de politizar a Avenida do Brasil. Mas não.
Por um lado, a oposição argumenta que o financiamento será feito com o dinheiro dos sanjoanenses e que é um valor muito elevado. Por outro, o executivo assegura que não está excluída a possibilidade de se vir a alocar a esta empreitada fundos comunitários, podendo aí o empréstimo ser reorientado para outras necessidades. Este tem sido um importante ponto na discussão. Muitas obras são feitas com “o dinheiro” [aspas minhas] dos cidadãos e não beneficiam sempre TODOS, mas essa é, também, uma lógica de justiça e solidariedade social. A circulação na Avenida do Brasil será livre e qualquer sanjoanense a poderá percorrer, mesmo que alguns o façam mais vezes que outros. Eventualmente residentes da Avenida do Brasil “contribuíram” [aspas minhas], noutros momentos, para obras das quais não usufruem regularmente. Para além desta ser, como bem se reconhece, uma das principais vias de entrada (e saída, para quem trabalha fora) da cidade.
Outro ponto expressivo do debate é o estacionamento. Esta é uma discussão transversal a outras intervenções na cidade. Pessoalmente, também não me agrada a escassez de estacionamento. Todavia, reconheço que uma intervenção desta dimensão não pode apenas ficar presa a necessidades pessoais e da atualidade, deve ir mais longe e preparar a cidade para o futuro. E as cidades do futuro são construídas mais para as pessoas do que para os carros. Colocado este assunto na sessão de apresentação do projeto de requalificação, importa referir que foi deixada abertura, pela Câmara, para repensar novas soluções de estacionamento, designadamente em zonas envolventes.
A intervenção, para resolver problemas de perdas de água, feita anteriormente, deixou a rua num estado de degradação que obviamente não dignifica a cidade, nem dá às pessoas vontade de por lá passear. A renovação da rua deve servir também para fomentar novas práticas de usufruto da mesma e contribuir igualmente para novos modos de vida urbana e sociabilidades daí emergentes. Ainda assim, não é verdade que a Avenida do Brasil não tenha peões. Embora não seja mentira que pode ter mais, sobretudo se se transformar numa via mais aprazível.
Sobre as questões técnicas (separador central, passeios, etc), não parece haver nada mais sensato do que confiar nos técnicos e no conhecimento resultante dos estudos eventualmente elaborados para a construção do projeto, pela entidade externa contratada para o efeito.
De resto, o mais benéfico para a população não é a politização feita em torno da rua, mas sim a execução da obra e consequente melhoria das condições de vida, atenuando-se, simultaneamente, desigualdades geo-sociais da cidade.
E quanto ao projeto de requalificação, como tantas vezes, primeiro estranha-se, depois usufrui-se das novas condições da rua.

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