A fadiga pandémica assola o país. A fadiga política tomou conta do Governo. Os casos de desgaste sucedem-se. As divisões multiplicam-se. As descoordenações políticas avançam. As polémicas começam a ser constantes. A erosão e o cansaço são grandes. A degradação é já bastante visível. Até já há Ministros a dizerem nos jornais que desejam sair do Governo.
Nada disto é surpreendente. Afinal este Governo está em funções há cerca de seis anos. Aproxima-se rapidamente o fim deste ciclo político. E a experiência do passado demonstra que a erosão própria do início do fim de ciclo começa dois anos antes de o ciclo terminar. Mesmo que as sondagens continuem favoráveis e a oposição seja frouxa, os sinais de desgaste, de cansaço e de arrogância próprios da ocasião estão lá e vão fazendo o seu curso. Tudo igual ao que sucedeu no passado.
Acresce que este é um Governo minoritário. Tem uma base de apoio precária e instável. Passa mais tempo a negociar que a governar. Gasta mais energia a tentar fazer entendimentos de circunstância que a reformar e a preparar o futuro. Tudo isto reforça o cansaço e acentua a degradação. É como uma equipa de futebol que corre demasiado atrás da bola em vez de ter a sua posse. Cansa-se muito, apesar de jogar pouco!
Nestes momentos, urge remodelar. É um clássico. Não há alternativa. Primeiro, porque ainda só estamos no início do fim do ciclo. Este só acaba daqui a dois anos e é preciso garantir a chegada até lá. Depois, porque, se não houver sangue novo e novas caras, a degradação acentua-se muito mais e torna-se insuportável. É como se em vez de fim de ciclo tivéssemos fim de festa. E, finalmente, quanto mais rápido se remodelar, melhor. Protelar e adiar é um erro. Se entre o diagnóstico e a terapêutica passar muito tempo, o doente ou não aguenta ou fica com sequelas profundas. O tempo de agir nos governos e nos hospitais não é muito diferente!
Somos tradicionalmente um país sebastiânico. Imaginamos sempre que há um D. Sebastião a chegar, tipo solução milagrosa ou tábua de salvação. No caso dos governos, gostamos sempre de presumir que uma remodelação é uma espécie de D. Sebastião acabado de chegar, fresquinho e em força. Não nos iludamos. Uma remodelação é sempre uma arma de dois gumes: se for feita fora de tempo e em versão aparelhística, com Secretários de Estado que sobem a Ministros e Chefes de Gabinete que ascendem a Secretários de Estado, será fraca e pífia, sem efeito nem resultado; se for feita a tempo e horas e com pessoas de prestígio e qualidade, aí sim, pode ser uma lufada de ar fresco e uma nova oportunidade. A questão, todavia, que se coloca é esta: mas ainda há gente de qualidade, prestígio e peso político que queira ir para o Governo? Quando este está próximo do fim? Quando o PM tem já a cabeça fora de Portugal? Quando o tempo é de gerir o dia a dia e não de reformar para o futuro? Pode ser que sim. Mas é preciso ver para crer!