1. Verdadeiramente não sei. Ninguém sabe. O que é fácil adivinhar é que estas são as eleições mais incertas e imprevisíveis dos últimos anos. Anda no ar um ambiente estranho e difícil de interpretar: os cidadãos dizem que não gostam de política mas a verdade é que os debates televisivos bateram todos os records de audiência; estamos a dez dias de eleições e o número de indecisos, em vez de diminuir, como seria normal, tem vido constantemente a aumentar; toda a gente fala de bipolarização ao centro mas os partidos dos extremos, à direita e à esquerda, ainda estão a resistir ao voto útil nos dois maiores partidos nacionais. O que tudo permite concluir que as pessoas estão empenhadas mas inseguras, determinadas mas ansiosas, com vontade de decidir mas cheias de dúvidas quanto à decisão. Parece que não, mas é um sinal de maturidade e responsabilidade.
2. Toda a gente sabe o meu voto. É bom, é honesto e é transparente assumi-lo. O que pouca gente saberá é o meu grande desejo. E, todavia, é fácil apresentá-lo em poucas palavras. Eu quero estabilidade para o meu país mas quero sobretudo desenvolvimento. A estabilidade é importante mas o desenvolvimento é que é decisivo. Há 20 anos que temos estabilidade política. Mas não temos desenvolvimento económico e social. Nas duas últimas décadas aconteceram coisas horrorosas a Portugal: houve cinco países do leste europeu que nos ultrapassaram no ranking do crescimento económico; em vez de nos aproximarmos dos países europeus mais ricos, ficámos cada vez mais na cauda da Europa; a comparação com a Irlanda há anos que passou a ser uma miragem, porque os irlandeses sobem na tabela europeia e nós nos afundamos; tudo porque tivemos crescimentos económicos medíocres. Os outros sobem de divisão no crescimento. Nós andamos atrás do comboio do desenvolvimento. Numa palavra simples: na comparação com vários outros países estamos cada vez mais pobres. Chama-se a isto empobrecimento relativo.
3. Mudar esta realidade é absolutamente decisivo. A verdade é que não há melhores salários se não houver mais crescimento económico. E, sem melhores salários, não há felicidade nem bem-estar. Nem no presente para os mais velhos. Nem no futuro para os mais jovens. Mudar de vida é do que precisamos. E essa ambição é possível. Se houver outras causas, outros objectivos, outras políticas e outras medidas. O grande desafio é este: se outros países facilmente comparáveis com Portugal crescem, por que é que nós não crescemos? Se entre 1985 e 2000, com Cavaco e Guterres, crescemos muito, por que é que agora definhamos? Será que os portugueses perderam qualidades e ambição? Claro que não. A conclusão é outra: precisamos de mudar as políticas, não precisamos de mudar de país.
Termino como comecei. Não sei quem vai ganhar as eleições. Mas gostava que fosse Portugal. Para tal, é preciso apenas mudar o chip – precisamos de estabilidade mas precisamos sobretudo de desenvolvimento.