O padre António Vieira tem uma prédica magistral no tema “a busca do pão”.
Quem foi este grande escritor que ainda hoje é referência de estudo nos nossos liceus?...
Foi alguém que muito fez, pelo arrojo que teve em defender os índios da Amazónia, no Brasil, contra a exploração exercida pelos colonos sobre os mesmos. Teve de trabalhar e sofrer muito com a raiva dos colonos, que enriqueciam com esse trabalho escravo. Veio a Lisboa denunciar o facto e pedir aos maiorais do reino uma solução digna, para eles.
Que ousadia!...
Nos seus sermões, durante a Quaresma tinha- se debruçado muito sobre a parte espiritual do homem, dizendo que Deus era a luz que o ser humano devia acender no seu coração, embora frouxa, como a chama de uma simples vela.
Mas o Espírito Santo revelou-lhe o seguinte:
– O corpo não merece também a nossa atenção?...
– Se ele está doente, o nosso espírito não tem força para chegar a Deus!...
– Ele precisa da nossa matéria, para se revelar e subir às alturas!...
– Mas subir como, se o nosso corpo está tão debilitado!...
A minha mãe dizia-me muitas vezes: Ninguém deixe o rezar, para a hora da morte!..
Este sacerdote teve uma inspiração divina e pensou:
– O corpo do Homem, segundo a Bíblia foi feito primeiro, na linguagem simbólica a partir do barro, porque é tão frágil, sempre a cair no mal, e depois, Deus soprou-lhe o Espírito.
Dotou a terra de todas as espécies de alimentos, para o corpo e até os astros a influenciam na boa produção dos mesmos, tal como o sol, as fases da lua, a chuva, a neve e o vento para as velas. E, de uma forma magistral, faz um sermão dizendo:
– Ó Senhor, o maior cuidado do Homem na Terra é a busca do pão.
– Toda a busca do ser humano se resume em o buscar.
Eu também penso assim!...
Meus queridos leitores, presentemente, quantos já morreram no mar, nesta busca, por não a conseguirem obter nas suas terras!...
Para terminar, deixo-vos um pequenino excerto desse sermão intitulado: A busca do pão.
«Que faz o lavrador na terra cortando-a com o arado, cavando, mondando,regando, semeando? Busca o pão.
Que faz o soldado na campanha, carregado de ferros, vigiando, pelejando, derramando sangue? Busca o pão.
Que faz o navegante no mar içando, amainando, sondando, lutando contra as ondas e o vento? O estudante nas universidades revolvendo livros, queimando as pestanas?
O requerente nos tribunais pedindo, alegando, replicando, dando, prometendo?
Todos buscam o pão.
Os pobres dão pelo pão o trabalho, os ricos a fazenda, os espíritos baixos a honra e os de nenhum espírito a alma!...
Nenhum homem há que não dê pelo pão e ao pão todo o seu cuidado.»
Que bonito!...