Opinião

Pensar São João da Madeira - Ensino universitário na nossa terra

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Sim, precisamos de permanecer a sonhar São João da Madeira.
O sonho do ensino universitário na nossa cidade não é de hoje. Há décadas foi ideia inicial do presidente Manuel Cambra. Foi um tema do presidente Castro Almeida, durante o mandato do qual a cidade perdeu a oportunidade única de captar, em 2004, o Pólo Norte da Universidade de Aveiro, que acabou por ficar aqui ao lado em Oliveira de Azeméis. Foi proposta de campanha do candidato a presidente de Câmara Luís Miguel Ferreira, em 2016. Foi relançado o assunto na esfera pública em 2021 e por aqui ficou.
Nunca ninguém verdadeiramente se empenhou nesta luta. Nunca ninguém verdadeiramente lutou por este sonho. E se há um sonho que vale a pena perseguir é este.
Este próximo parágrafo seria dedicado à enumeração das inúmeras vantagens que teria sediar em SJM uma instituição de ensino superior. Como enumerar algo inumerável é supérfluo, vou-me poupar dessa tarefa e peço a cada leitor que imagine, por 1 minuto, o que seria ter uma universidade na nossa terra. Peço que imagine as vantagens que tal traria a cada sanjoanense, desde o vendedor ambulante de castanhas, passando pelos jovens, até toda a indústria sanjoanense.
Mas que modelo de ensino superior faria sentido abrigar em SJM?
Nas nossas 3 escolas secundárias públicas e no Centro de Educação Integral temos em funcionamento neste ano letivo 15 cursos de ensino profissional. Portanto, são centenas os estudantes que frequentam esta modalidade de ensino. Eu conheço bem a realidade dos estudantes de ensino profissional da nossa cidade quando terminam o curso, e essa realidade é clara. Entram no mercado de trabalho com o certificado de qualificação profissional de nível IV que o curso lhes dá e não conseguem, por imposição das empresas na grande maioria das vezes que alegam ser qualificação insuficiente, arranjar trabalho na sua área de formação. Chegados aqui, das duas uma: ou preparam-se para os exames nacionais da forma que conseguem, obtêm notas baixas e só conseguem prosseguir estudos em universidades privadas noutras cidades, ou, por não terem possibilidade de fazer esse esforço financeiro, contentam-se com empregos precários, que pagam próximo do salário mínimo, fora da sua área de formação e sem possibilidade de progressão de carreira - ou seja, condenados a uma vida estagnada.
Apesar do exposto, a grande maioria das áreas de formação profissional disponibilizadas nas nossas escolas fazem falta e têm futuro na nossa cidade, desde a indústria ao desporto.
O que proponho é juntar o útil ao agradável, acolhendo uma instituição de ensino superior pública em SJM que se foque na complementação da formação dos estudantes do ensino profissional, formação esta que estes tanto procuram porque o mercado de trabalho assim o exige. Criar-se-ia assim uma cadeia de fornecimento profissional auto-sustentada em que as escolas secundárias fornecem os alunos pré-formados ao ensino superior sanjoanense, ensino este que se encarrega de complementar a sua formação e que, no final, os entrega aos mercados de trabalho e indústrias sanjoanenses e de arredores, prontos a trabalhar, 101% qualificados, prontos a dar resposta às necessidades da nossa região.
Há procura e há oferta, mas para completar a lei da procura e da oferta só falta uma variável, o preço.
Quanto a financiamento proponho o seguinte. Primeiramente, estruturar este plano do ensino universitário sanjoanense do início ao fim, ouvindo as escolas, ouvindo as empresas e o que estas procuram e precisam, ouvindo especialistas do ensino profissional e universitário, ouvindo os estudantes e o que estes querem e as dificuldades que atualmente têm, analisando exemplos nacionais e internacionais - em suma, elaborando o plano após estudado a fundo o tema. Uma vez delineado o fantástico programa, apresentá-lo a todo o lado - bater à porta das universidades e politécnicos (faz muito sentido bater à porta dessas instituições porque já têm toda a estrutura montada, desde equipamentos até professores, e fundar um pólo dessas instituições de ensino superior em SJM seria certamente mais fácil e eficaz do que estabelecer uma universidade de raiz); bater à porta do governo e dos seus ministérios, bater à porta da Assembleia da República, candidatar-se a todos os fundos europeus e nacionais possíveis (o modo como, aliás, Oliveira de Azeméis obteve a sua instituição de ensino superior), bater à porta de instituições privadas promotoras do ensino superior, bater à porta de empresas e instituições sanjoanenses para serem patrocinadoras do projeto, entre muitas outras portas. Tenho a certeza de que com uma excelente visão e com um excelente plano, eventualmente alguma dessas portas se irá abrir.
Se já o foi possível noutras terras, porque não na nossa? Se já foi pensado no passado, porque não implementá-lo no presente? Se faz sentido e se é extremamente benéfico, porque não lutar por ele?
É um sonho? Sim, é um sonho. Mas já dizia Fernando Pessoa - «Tudo vale a pena quando a alma não é pequena». Urge-se investir neste sonho a tempo inteiro. Urge-se sonhar, agir, trabalhar e realizar. Urge-se pensar São João da Madeira.

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