Para além dos indicadores!

Sendo este o meu penúltimo artigo de opinião do ano, considero importante deixar alguns dados que ajudam a compreender o momento económico que atravessamos. Não sou académico na matéria, mas baseio esta reflexão na minha experiência associativa na área empresarial e na participação em vários fóruns de confederações empresariais. É dessa vivência prática que resulta esta análise.
Portugal entra em 2025 com sinais de estabilidade num contexto internacional instável. O Banco de Portugal projeta um crescimento de cerca de 2,0% em 2025, 2,2% em 2026 e 1,7% em 2027, com inflação estabilizada perto dos valores de referência da zona euro. Estes resultados mostram resiliência, explicada pela robustez do mercado de trabalho, pela adaptação das empresas e pela orientação crescente para setores de serviços de maior valor acrescentado.
Mas crescer não basta, sobretudo em cidades como São João da Madeira, onde o impacto das grandes tendências económicas se intensifica pela dimensão reduzida, densidade populacional e forte estrutura industrial. Apesar da estabilidade macroeconómica, o custo de vida continua elevado, a habitação é um dos maiores fatores de pressão social e as PME enfrentam custos altos, escassez de mão de obra e a necessidade de modernizar processos.
São João da Madeira é um concelho singular. Com cerca de 8 km², altamente urbano e industrial, está integrado na Área Metropolitana do Porto e é reconhecido como cidade do trabalho e da exportação. O ganho médio mensal situa-se em torno de 1.150 euros, chegando a cerca de 1.260 euros na indústria transformadora, segundo o GEE. O poder de compra per capita está acima da média nacional, com um índice de 116,7.
Apesar disso, o desemprego registado permanece relevante. Em vários meses de 2023, entre 700 e 800 pessoas estavam inscritas nos serviços de emprego, segundo o IEFP. A base industrial do concelho mantém-se ativa e exportadora, mas enfrenta custos elevados, margens curtas, burocracia e dificuldade em recrutar.
Os dados do INE confirmam maior emprego e maior massa salarial a nível nacional, mas localmente muitos rendimentos continuam insuficientes face ao custo da habitação e dos bens essenciais. Num concelho pequeno, a pressão imobiliária é ainda mais acentuada. Além disso, o crescimento nacional continua abaixo do necessário para convergir rapidamente com a média europeia no PIB per capita. A produtividade portuguesa permanece inferior, situando-se significativamente abaixo da média da União Europeia, o que limita a capacidade de aumentar salários e de fixar jovens qualificados.
Muitos economistas convergem num diagnóstico: Portugal só avança de forma clara se reforçar o investimento público estratégico, elevar qualificações, aumentar produtividade e aproveitar eficazmente fundos europeus como o PRR, canalizando-os para inovação, tecnologia, digitalização e inteligência artificial. Ao mesmo tempo, é necessário enfrentar desafios estruturais como a dependência dos serviços, a burocracia, a dificuldade de industrializar com base tecnológica e a concorrência internacional em setores tradicionais.
Em São João da Madeira estes desafios são muito concretos. Crescimento económico aqui mede-se nas portas que se abrem todos os dias, nos salários pagos, na capacidade de atrair talento e garantir habitação digna. O concelho beneficia de alguma melhoria nacional, mas sente também os limites dessa trajetória: dificuldade em recrutar, custos elevados e rendimentos que não acompanham a subida dos preços.
A região, Aveiro e Área Metropolitana do Porto, apresenta indicadores de desenvolvimento acima da média nacional, segundo a CCDR Norte, o que confirma que temos bases fortes. O que importa para nós é perceber como a economia nacional se traduz na vida concreta das empresas e famílias da cidade.
Portugal está melhor nos gráficos. O desafio, em São João da Madeira, é garantir que também fica melhor na vida de quem aqui vive e trabalha. Só assim construiremos a verdadeira convergência, não apenas com a média europeia, mas com aquilo que sabemos que o nosso concelho tem capacidade para alcançar.