1. Estamos a uma semana de celebrar os 50 anos do 25 de Abril. Eu, que nasci para a política com a Revolução de Abril, só posso evocar com emoção esse momento. O 25 de Abril de 1974 não é uma data qualquer. Foi a oportunidade da nossa autodeterminação cívica e política. Com o advento da liberdade e da democracia, Portugal atingiu a sua maioridade, reganhou prestígio no exterior, reforçou a sua coesão interna, criou as condições para ter outro futuro.
Claro que muitos erros se sucederam depois; muitas falhas se verificaram pelo caminho; muitas esperanças não se concretizaram, entretanto; até algumas desilusões se foram acumulando ao longo dos anos. São as dores próprias de um processo de crescimento e os riscos inevitáveis de uma caminhada que tem sempre expectativas demasiadas à partido e, por isso mesmo, a perceção de resultados minguados à chegada.
Mas o momento é especial. E não é apenas pela liberdade e pela democracia. É também pelos direitos sociais. Basta pensar no valor inestimável do SNS. Há 50 anos, morria-se em Portugal por falta de dinheiro para pagar uma cirurgia. De facto, antes de abril, quem tinha posses tinha acesso à saúde. Quem não tinha posses vivia o pesadelo da morte por falta de cuidados de saúde. Não é demagogia. É a mais pura das verdades.
2. Cinquenta anos depois, não temos um problema de democracia. Mas temos ameaças à democracia. Não as ameaças das revoluções ou dos golpes de Estado. Os riscos, hoje, não vêm de fora. Vêm de dentro e não devem ser subestimados.
É o risco do radicalismo. Vivemos hoje numa sociedade excessivamente radicalizada. O que não acarreta nada de bom. Precisamos de combater o radicalismo com a coragem da moderação e do equilíbrio. O radicalismo não conduz a nada de saudável nem se combate com um novo radicalismo.
É o risco do populismo. Não é um problema apenas português. Mas também é um problema nosso. Diagnosticá-lo é fácil, combatê-lo é mais difícil. Mas podemos tentar vencê-lo: governando bem, resolvendo os problemas das pessoas, respondendo com novas oportunidades a todos quantos estão zangados com a política e com a vida.
É o risco das novas polícias do pensamento que irradiam, à esquerda e à direita. Há 50 anos, acabou-se com a polícia política que censurava o pensamento e matava a liberdade de expressão. Não é legítimo, cinco décadas depois, aceitar novas limitações à nossa liberdade, incluindo até a liberdade dos que não gostam do 25 de Abril. A democracia é isto mesmo – o regime da tolerância e do direito à diferença.
É o risco da falta de esperança. Existe em muitos jovens. Passa pelos mais velhos. Mostra-se na classe média. Desenvolve-se no masculino e no feminino. Corre de geração em geração. Não é um risco fácil de debelar. Mas é o nosso grande desafio do futuro. Um desafio cívico e de cidadania. Um verdadeiro desafio de vida. A verdade é que enquanto há vida tem de haver esperança. Esperança e ambição.