Em 1966, adolescentes com livrinho de citações em riste decretaram que o vermelho dos semáforos significava “avançar”. Pintaram muros e colaram cartazes com a nova instrução. E agrediram ou ameaçaram física e verbalmente quem se opusesse ao desígnio da nova “ciência” política. Este episódio de fanatismo pelas virtudes da cor vermelha aconteceu em Pequim, no pico da revolução cultural.
O debate das nossas vidas, agora de cor verde, parece imbuído dos mesmos instintos revolucionários, embora com menos violência. E como em todos os debates da vida, de todas as gerações, reina a confusão, a manipulação e a instrumentalização. Confusão porque não se trata de saber se há ou não alterações climáticas, mas se tal se deve, e em que medida, à ação da humanidade. Manipulação porque se recorre ao medo e clamor social como importantes forças de transformação social. E instrumentalização porque se usa uma causa nobre para desconstruir, sem alternativa viável, os sistemas político e económico, abusando conscientemente da inocência dos nossos jovens.
A ciência não é, nem nunca foi, tão exata como se pretende e deseja que seja. Ela não é um substituto social da fé. Sabemos hoje que nem tudo se explica pela causalidade. A ciência e a realidade são mais fluidas, relativas e plurais do que se pensava até há bem pouco tempo — são mais quânticas.
Exemplo disso são estes seis factos baseados na melhor ciência, e que podem ser encontrados no livro “Unsettled”, lançado por Steven Koonin, ex-conselheiro de Obama: (1) as ondas de calor nos EUA não são mais frequentes hoje do que em 1900; (2) o gelo da Gronelândia não está a derreter mais rapidamente do que há 80 anos; (3) nenhum evento climático é atribuível a alterações climáticas induzidas pela humanidade; (4) a precipitação não está a variar significativamente; (5) as emissões de metano de arrozais e de gases digestivos do gado são o dobro das da indústria do petróleo e do gás; e (6) as emissões de metano e dióxido de carbono estão, e vão continuar, por muitos anos, a aquecer o planeta.
Aposto que o leitor só se sentirá à vontade com o último fato. E que os restantes lhe suscitam dúvidas. Tal deve-se à torrente ofuscante de slogans da comunicação social, de políticos oportunistas e de activistas hollywoodescos no seu glamour green chic. É uma impressionante falha coletiva. Do desleixo de cientistas que deixam as suas conclusões ser simplificadas e dramatizadas. Dos jornalistas que acriticamente reproduzem frases soltas e raramente leem o conteúdo dos artigos científicos. Dos editores que o permitem. Dos ativistas e dos políticos que estão a aproveitar a onda. E de todos os outros a quem o alarme social justifica o acesso a fabulosos financiamentos.
A luta por um ambiente limpo de emissões poluentes falhará se o fizermos amedrontados por um fim do mundo imaginário decretado por cavaleiros do apocalipse, e com base em neo-fascismos. Ou se vivermos corroídos por uma culpa, quer civilizacional, quer individual, expiada em palhinhas de papel.
Devemos antes fazê-lo por imperativo moral. De respeito pela natureza e pela qualidade de vida de todos os habitantes da Terra. Porque queremos ar limpo, água limpa em quantidade suficiente e conforto térmico em casa e no trabalho. Ou, citando o Papa Francisco, porque queremos proteger “a nossa casa comum”.
Como já dizia Nietzsche, a maneira mais eficaz de corromper um jovem é ensiná-lo a admirar aqueles que pensam como ele e não os que pensam de forma diferente. Obrigado, Greta e todos os adolescentes do mundo, por colocarem o assunto no topo da agenda política e mediática. Mas compete agora aos adultos na sala tratarem do assunto, com base na ciência e na sua responsabilidade social e política. Ou falharemos nesta luta, tal como falhou a revolução cultural chinesa.