A apreciação de Pacheco Pereira sobre o novo Governo, dizendo que alguns dos seus ministros “são muito à direita” e de que isso “vai ser um problema”, fez-me reflectir de que lado do espectro político se posicionava Sá Carneiro. Não me recordo que se reclamasse de direita.
Pacheco Pereira aguçou a minha curiosidade. Cinquenta anos depois, deliciei-me a ler o programa do PPD aprovado no seu primeiro congresso, nos dias 23 e 24 de Novembro de 1974. Um programa que na minha memória não era de direita. E Confirmei-o: de maneira alguma!
“Não há democracia sem socialismo, nem socialismo autêntico sem democracia”. Esta é uma frase cujo conteúdo pode ser lido em diversos documentos do PCP desde a sua fundação até aos dias de hoje. Contudo, penso que a generalidade dos leitores, não saberá que é também uma ideia programática do congresso fundador do PPD, escrita – exactamente assim – na sua página 13.
O ponto 2 deste mesmo programa tem como título: “O CAPITALISMO MULTIPLICOU AS DESIGUALDADES SOCIAIS”. Vocifera grandes críticas ao sistema capitalista no mundo.
Na página 15, surpreendo-me ao ler que a “sociedade capitalista conseguiu expandir a produção a um ritmo extraordinário”, mas que “fê-lo à custa da exploração dos trabalhadores e das nações produtoras de matérias-primas, colocando a maioria da população na dependência de alguns directores de grandes grupos económicos incontroláveis”.
Na página 18, é criticada a concentração de capital do sistema capitalista e considerado este facto de “gravíssimo, porque tende a colocar a grande maioria da população na dependência dos poucos capitalistas e tecnocratas que dispõem do poder económico”.
Sobre a “POLÍTICA DE PAZ E DE DEFESA” li, com bastante entusiasmo e concordância, o conteúdo nas páginas 49, 50 e 51. Ali é afirmado que “o Partido Popular Democrático se declara incondicionalmente favorável à promoção da paz mundial e do desarmamento geral e universal”.
Relativamente à NATO, o PPD aceita a permanência de Portugal “apenas enquanto não estiver institucionalizado um novo sistema internacional e multilateral de segurança”. Mas, enquanto isso, reclama que “a contribuição portuguesa financeira e humana deve diminuir progressivamente” e ainda que “devem ser extintas as bases estrangeiras em Portugal”.
Não vale a pena cansar os leitores com mais. Quem quiser vá à net. Está lá tudo.
Este programa e a ideologia que comporta são, quanto a mim, as razões que levaram o PPD a aprovar, juntamente com o PS, o PCP, o MDP e a UDP a Constituição da República em 2 de Abril de 1976.
Por fim, após ler esta relíquia, ocorre-me perguntar: – será que alguém, saído de Portugal em Dezembro de 1974 e regressado em 2024, sabe onde está o PPD de Sá Carneiro?
O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.