O Mercado Municipal de São João da Madeira é um dos espaços mais emblemáticos da nossa cidade. Inaugurado nos anos 1960, foi pensado para acompanhar o crescimento urbano e industrial de uma terra jovem e ambiciosa, recém-emancipada como concelho. Desde então, o mercado foi sempre mais do que um simples local de comércio, foi um ponto de encontro, um espaço de sociabilidade e uma peça fundamental na identidade Sanjoanense.
No entanto, nos últimos anos, a história deste espaço tem sido marcada mais pelos problemas do que pelo dinamismo que se pretendia. A requalificação do mercado, adjudicada em 2020, prometia devolver-lhe a centralidade perdida. Com um investimento de 1,3 milhões de euros, a obra deveria estar concluída em 365 dias. A realidade foi bem diferente. A empreitada sofreu quatro prorrogações de prazo, devido, a erros de projeto, e outros com o empreiteiro. A derrapagem financeira associada e a prolongada duração dos trabalhos geraram justificada insatisfação na população.
Enquanto as obras se arrastavam, muitos comerciantes abandonaram o espaço. Os clientes também se afastaram, perdendo o hábito de frequentar o mercado e dando primazia ao centro comercial Oitava Avenida, e outras grandes superfícies comerciais, que dispõem de estacionamento gratuito, uma vantagem que se tornou ainda mais relevante face à existência de parquímetros e a uma fiscalização muito rigorosa na zona do mercado. Quando finalmente se lançaram concursos para ocupar os novos espaços comerciais, nove lojas ficaram desertas, sem qualquer interessado. Uma ferida aberta num projeto que deveria revitalizar o comércio de proximidade.
A verdade é que as obras tornaram o mercado mais arejado e moderno, mas não conseguiram garantir o movimento, os negócios e a vida. Comerciantes que resistiram ao longo das obras criticam a falta de diálogo com a Câmara e consideram que as intervenções nem sempre foram pensadas para facilitar o seu trabalho. Alguns afirmam mesmo que as novas bancas são menos funcionais do que as antigas.
Além disso, existem questões práticas que continuam a prejudicar a atratividade do espaço. Em dias de maior movimento, como os sábados, a recolha de lixo torna-se insuficiente, deixando o mercado com uma imagem descuidada precisamente nos momentos em que mais visitantes recebe.
Falta também uma aposta real na criação de novas dinâmicas. Mercados de cidades próximas, como o Bom Sucesso e o Bolhão, ou ainda exemplos internacionais como vários mercados de Madrid, transformaram-se em espaços de lazer, gastronomia e convívio. Ali, as pessoas não se limitam a fazer compras, encontram-se ao final do dia para petiscar, conversar e viver o mercado. Em São João da Madeira, falta essa ambição contemporânea, capaz de conjugar tradição e modernidade, comércio e socialização.
.O caso do nosso mercado é um espelho do que acontece quando se privilegiam os projetos sobre o papel em detrimento do acompanhamento no terreno. A história do mercado, rica e respeitável, merecia outra atenção e outro cuidado. Mais do que pedra e cimento, o que está em causa é a relação da cidade consigo mesma.
É necessário reconhecer os erros e repensar a estratégia. Não basta reabilitar fisicamente um espaço, é preciso criar condições para que ele seja vivido. Sem comerciantes, sem clientes e sem vida, o mercado, por mais bonito que seja, é apenas um edifício vazio.
O Mercado Municipal pode e deve voltar a ser um símbolo de vitalidade para São João da Madeira. Para isso, é urgente recuperar a confiança dos comerciantes, criar incentivos eficazes para a instalação de novas atividades, garantir condições adequadas de limpeza e manutenção, e, sobretudo, ouvir quem faz do mercado a sua vida. Só assim poderemos honrar a história e garantir-lhe um futuro à altura da nossa cidade.
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