Grande parte de nós, ou pelo menos a parte que vale a pena, entende o quão premente é investir na saúde, educação e desenvolvimento das crianças.
As crianças são, inequivocamente, a nossa esperança de um futuro mais justo, mais pacífico e mais tolerante.
Elas terão de resolver os problemas que deixamos no mundo e que não fomos capazes de resolver, terão de acertar as “contas” que erramos e minimizar o efeito da nossa displicência.
E para isso é preciso garantir que as crianças tenham acesso a uma boa educação, que possam atempadamente cuidar da sua saúde, prevenir e tratar as suas doenças.
Garantir que sejam estimuladas intelectualmente e investidas emocionalmente.
Pois é desta articulação de cuidados que resultará adultos bem resolvidos e capazes.
Como já disse Pitágoras, é preciso educar as crianças para que não seja necessário punir os adultos.
Compreender que o desajuste do comportamento adulto tem, grande parte das vezes, origem no desajuste do comportamento infantil, faz-nos ser mais cuidadosos e sensíveis a abordar a infância.
Muitos problemas emocionais e comportamentais continuam por solucionar e a impactar negativamente a nossa vida, por não termos “curado” ou corrigido a criança doente que ainda vive dentro de nós.
Crianças que não se sentiram amadas ou validadas, costumam tornar-se adultos inseguros e ansiosos nas suas relações interpessoais, incapazes de estabelecer relações equilibradas e simétricas.
Frequentemente, por medo de perder o amor dos outros, sentem-se impelidos a agradar e priorizar os seus pares.
Anulando desta forma, os seus próprios desejos e necessidades.
Não é raro também, que crianças rejeitadas ou abandonadas, se tornem adultos com um medo patológico de abandono e/ou “persigam” afectivamente, pessoas que os rejeitem.
Adultos carentes/emocionalmente dependentes, incapazes de “existir” ou funcionar sozinhos, foram crianças que se sentiram privadas de investimento emocional.
E é da falta de investimento emocional que costuma surgir a necessidade urgente do “outro”, como se o outro fosse uma tábua de salvação ou a única alternativa para a felicidade.
Por outro lado, crianças que não foram frustradas nas suas intenções, tornam-se adultos sem competências para lidar com as normais frustrações e contrariedades que a vida nos coloca caprichosamente à disposição.
Comportamentos aditivos, como são exemplo, as dependências de: álcool, drogas, sexo, compras e jogo, resultam, em última análise, da incapacidade de lidar com uma realidade que se afigura dolorosa ou frustrante
A adição, acontece pelo desejo de fugir de uma realidade que nos faz sentir frustração.
Compreende-se facilmente a importância de permitir que crianças experimentem e lidem com a frustração.
Um autor, do qual já não me recordo, terá dito que é tão perverso impedir que uma criança experimente frustração, quanto impedi-la de experimentar amor.
Fazer com que crianças se tornem adultos saudáveis, felizes e funcionais não é uma brincadeira.
Quando Fernando Pessoa, disse que: “o melhor do mundo são as crianças” , esqueceu-se de dizer, que o mundo depende delas!
Das crianças que correm e brincam despreocupadas, mas também das que permanecem encolhidas dentro de corpos adultos.