Opinião

O 3º volume

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Assistir à apresentação de um livro pode condicionar o leitor. As afirmações proferidas pelo autor, ou por quem por ele é convidado para abrilhantar a cerimónia, podem determinar a perspetiva de leitura.
É difícil esquecer o que é dito, as chamadas de atenção sobre a obra escrita e sobretudo, quando existe alguma polémica no seu conteúdo, não é fácil descurar as palavras proferidas.
Estes são os pressupostos que procurarei contrariar nas linhas seguintes.
Em devido tempo li os dois primeiros volumes escritos por Manuel Pais Vieira Júnior, “Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira”, fundamentais para compreender a evolução desta instituição e sobretudo, para verificar como é difícil ser parceiro do Estado Português.
O livro escrito por José António de Araújo Pais Vieira, editado este mês de novembro, seguiu o mesmo rumo dos primeiros volumes.
Os doze anos (de 1999 a 2010) são minuciosamente retratados.
O fio condutor é o mesmo dos anteriores volumes: a defesa da Instituição, como valor supremo da Mesa Administrativa e como as errâncias dos sucessivos governos dificultam o empreendedor social. Talvez o tom, agora utilizado, seja mais incisivo, o que é compreensível, face à história dos acontecimentos, que não permitem manter a paciência nos níveis adequados.
O livro agora editado é um ato de coragem, atendendo ao relato de episódios com maior proximidade temporal e vividos pelo autor. Os factos são apresentados com provas documentais.
A continuidade de projetos da Santa Casa da Misericórdia, a perseverança dos mesários e do Provedor em concluir infraestruturas, ou em adaptar as existentes às novas diretivas do regulador estão perfeitamente explicados e permitem compreender o vasto património desta instituição de São João da Madeira. Do mesmo modo, a disrupção, além da estranheza provocada, ajuda a esclarecer os pontos polémicos.
O hospital de São João da Madeira nunca ficou esquecido nas sucessivas provedorias. Apesar de nos anos consequentes, terem existido episódios que quase permitiram a recuperação da gestão hospitalar pela Santa Casa da Misericórdia, durante a década analisada, em que a houve uma tentativa de racionalização de meios do Estado e imensa turbulência, o autor tece considerações pessoais, esquecendo convicções políticas e enaltecendo a coerência de quem se manteve, sempre, na defesa do Hospital de proximidade à população deste concelho e freguesias limítrofes, com valências capazes de assegurar o serviço.
A oportunidade do livro é a ajudar a perceber a entrega da medalha de mérito municipal em ouro, atribuída pelo município de São João da Madeira a Alberto Pacheco, provedor da Santa Casa da Misericórdia de 2004 a 2010. Os sucessivos mandatos serviram para expor a sua capacidade de liderança, por dedicação e exemplo, sem descurar a frontalidade que tão bem o carateriza. Depois de anos de agitação, com Alberto Pacheco a pacificação voltou à instituição, com a concretização de várias valências, que eram ambições antigas. Em devido tempo, a Santa Casa da Misericórdia reconheceu o seu mérito, atribuindo o seu nome a uma Creche.
Esta edição está inserida no programa de festejos do centenário da Santa Casa da Misericórdia.
Como escrevo quinzenalmente, aproveito o espaço que me é atribuído para endereçar, atempadamente, os meus parabéns à instituição, na pessoa dos seus eleitos e demais funcionários.
A Santa Casa da Misericórdia sempre se destacou pelo seu pioneirismo. Na sua fundação, pelo assistencialismo hospitalar, para se completar pelo apoio social aos mais necessitados. É uma instituição que nunca perdeu a noção da sua importância no espaço geográfico em que está inserida. A sua relevância é de tal modo grandiosa, que os limites concelhios foram ultrapassados, premiando-a o Estado com a sua escolha, para resolver problemas em concelhos vizinhos, como reconhecimento da sua boa gestão.
Um desbravar de preconceitos geográficos, que com o tempo se verá quais as consequências no futuro do centralismo regional de São João da Madeira.

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