Opinião

Novo ciclo ou fim de ciclo?

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O Governo leva quatro meses de vida. Mas parece que são quatro anos. Nunca se viu um governo de António Costa tão desgastado e degradado.

1. A seguir a uma eleição costuma dizer-se que se abre um novo ciclo. Nos últimos meses tivemos não uma, mas duas eleições relevantes: as eleições no país e as eleições no PSD. E abriu-se mesmo um novo ciclo. Já se nota bem, quer do lado do Governo, quer do lado da oposição.
O Governo leva quatro meses de vida. Mas parece que são quatro anos. Nunca se viu um governo de António Costa tão desgastado e degradado. Falta chama, iniciativa e decisão. Abundam os conflitos, a descoordenação e os problemas. Na economia, a inflação é um problema sério e generalizado. Na saúde, a falta de decisões e reformas durante anos levou ao caos que hoje se vive. No país, os portugueses sentem que, pela primeira vez na era António Costa, o poder de compra baixa e os rendimentos diminuem. No Governo, assistimos a conflitos políticos invulgares e desgastantes. Estamos num ciclo novo, embora com uma fachada antiga, degradada e esburacada.
António Costa está a começar a viver o que Cavaco Silva viveu ao fim de oito anos da sua longa governação, nos anos 90: o cansaço, a falta de energia, o cheiro a fim de festa. Nada disto é surpreendente. Costuma suceder com todos os governos, à esquerda e à direita, ao fim de várias legislaturas. É um sinal de fim de ciclo, ao fim de muitos anos de poder. Habituemo-nos. É natural, é inevitável e faz parte da normal evolução da democracia.
2. Do lado da oposição também há um novo ciclo. Aqui, a novidade é maior. O PSD mudou de líder e, com isso, mudou radicalmente de estratégia. O tempo de liderança de Luís Montenegro é ainda curtíssimo, mas os sinais são de diferença total em relação a Rui Rio. Onde um falava de acordos com o PS, a cada discurso que fazia, outro faz oposição ao governo em cada intervenção que produz: na inflação, nos incêndios, na carestia de vida ou na saúde. Não é apenas um estilo diferente. É uma estratégia diferente. E esta nova estratégia complica e agrava o ciclo governativo.
Claro que Luís Montenegro tem um caminho árduo à sua frente. O Governo está em declínio, mas tem quatro anos pela frente. O desgaste do PS começa a notar-se, mas a maioria absoluta é um escudo protector. O PSD passou a fazer oposição, mas precisa de tempo e ideias para ser visto como verdadeira alternativa.
A verdade, porém, é que a inversão de tendências já começou. É uma inversão lenta e paulatina, mas é inversão. Leva tempo a aprofundar-se, mas vai fazendo o seu caminho. E vai consolidar-se se António Costa, como é provável, sair da liderança do PS e não se candidatar mais a PM. É o que sempre sucede ao fim de ciclos longos. Nesses momentos, as pessoas não querem apenas mudar de caras. Querem também mudar de políticas. Foi assim no fim do cavaquismo. Foi assim no fim do guterrismo.

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