25 de abril – Ao sair de Campanhã, encontro os preparativos para o desfile nas ruas do Porto. Minutos depois, percorro a rua Rodrigues de Freitas, sem carros, em sentido contrário ao que será a marcha do dia. O meu destino é ali perto e enquanto estou ocupado, ouço os gritos de ordem. Vozes pedem que o 25 de Abril seja para sempre e o fascismo nunca mais volte. Vários minutos com vozes diferentes e ouvindo-se outros slogans. Onde me encontro, a decoração tem cravos, aproveito para sentir o cheiro da Liberdade. Regresso à rua, caminho no alcance do desfile. Muito jovens, forças anarcas, forças políticas mais radicalizadas, gritos de ordem mais combativos, linguagem mais dura. Tudo sereno, apesar do aparato. Mais à frente, outros partidos, a mesma tranquilidade e muita felicidade no rosto dos jovens e dos menos jovens. Não chego a ver o cabeço do cortejo, nem tenho hipótese de seguir para a Avenida dos Aliados. Outros compromissos familiares. Observei de perto o ativista da nossa casa. À noite somos brindados com a sua imagem na reportagem da SIC.
24 de abril – Macron vence. A França prosseguirá na sua caminhada democrática. A democracia tem esta capacidade, permite qualquer força política concorrer e mesmo os que são contra o sistema eleitoral, arriscam-se a vencer. Apesar das dificuldades e da forte contestação, o presidente francês é reeleito. Perdeu 8% dos votos relativamente a 2017. Ao ouvir os comentários, parece ter ficado esquecido os desacatos provocados pelos “coletes amarelos” ao longo destes últimos anos. Os 16% de vantagem são apresentados como uma vitória para o derrotado. Ou a derrotada. Perderam os extremistas, sobretudo, aqueles que tendo votado na França Insubmissa na primeira volta, não foram capazes de, no último domingo, seguir o conselho do seu líder e criar um cordão sanitário em torno da candidatura da União Nacional. Não é apenas a extrema esquerda que está equivocada, toda a direita francesa está refém. As eleições legislativas de junho permitirão dissipar todas as dúvidas.
23 de abril – Marcelo Rebelo de Sousa visita a Santa Casa da Misericórdia, a propósito do centenário desta instituição de São João da Madeira. Vários discursos na cerimónia solene, antes da homenagem a Manuel Pais Vieira Júnior. Das palavras do Presidente da República, a alusão à iniciativa da sociedade civil em complemento à solidariedade promovida pelo Estado, foram extremamente oportunas. Pela necessidade de separar conceitos e promover o envolvimento dos cidadãos na comunidade, ajudando os mais desfavorecidos. Outra passagem curiosa, a da descendência familiar ao serviço de uma instituição. Importante é servir, sem comparações com antecessor.
17 de abril – Domingo de Páscoa, oportunidade para voltar à festa de família. O reencontro em Pombal, na aldeia onde nasceu a minha mãe, permite juntar 40 familiares ao almoço. Recupera-se a tradição, interrompida pelas inibições da pandemia.
15 de abril – Morre Eunice Muñoz. A dama do teatro português. Uma carreira longa e bem conseguida, com adaptações ao estado físico e de saúde da atriz. Um exemplo para todos, sobretudo para os jovens a iniciar os primeiros passos na arte da representação ou interpretação. Das imensas homenagens, transmitidas no dia, ouço da repetição de uma entrevista à TSF, pela voz de Eunice Muñoz, a sua congratulação pela presença de muito público a assistir a peças de teatro em várias salas do país. No seu entender, esta adesão permitirá aos jovens fazerem boas carreiras profissionais. Por coincidência, a minha filha está ausente por uns dias, precisamente a participar nas filmagens da adaptação do livro “a sibila” de Agustina Bessa Luís. Estreante nestas andanças, pergunto-lhe qual a reação do restante elenco à notícia desta morte. Houve lágrimas, responde-me, sentidas como se tratasse de um familiar.