Opinião

Marcelo, passado e futuro

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O Presidente da República fez no 25 de Abril um discurso fabuloso, que concitou um aplauso generalizado da opinião pública. Primeiro, um discurso que surpreendeu. Surpreendeu pelo tema, pela sabedoria e pelo distanciamento inteligente do trique-trique da política quotidiana. Depois, um discurso corajoso. É preciso ter-se coragem para abordar de frente o tema sensível da guerra colonial, evitando paixões e radicalismos e procurando a reconciliação nacional com o passado. Finalmente, um discurso pedagógico e com sentido estratégico. A nossa história é a nossa história. Toda ela, sem hiatos nem excepções. Tem altos e baixos, momentos melhores e piores, mas é a nossa história. Merece ser respeitada e não espartilhada. Afinal, uma nação sem história e sem memória é uma nação sem futuro.
Depois de ler e reler este magnífico discurso, fiquei com outra certeza: a certeza de que precisamos, mais mês, menos mês, de um outro discurso com as mesmas preocupações, só que noutra direcção. As mesmas preocupações de distanciamento, coragem, pedagogia e sentido estratégico. Só que agora já não centrado no passado revisitado mas antes no futuro que perspectivamos.
É preciso, com distanciamento da espuma dos dias, reflectir sobre que futuro queremos para Portugal. Um futuro de acomodação ou um futuro de mobilização? Um futuro com alma ou um futuro sem ambição? Um futuro de desenvolvimento sólido e sustentado ou um futuro de mediocridade, mediania e nivelamento por baixo? Mais do mesmo ou uma nova oportunidade?
É necessário, com a coragem que os estadistas costumam ter, questionar se vamos ou não na direcção certa, se estamos apenas a cuidar do imediato e conjuntural ou se estamos a fazer algo de estratégico e estrutural, se, para usar um clássico da política, estamos verdadeiramente a preparar as futuras gerações ou se estamos apenas a trabalhar para as próximas eleições.
É conveniente, com sabedoria e espírito pedagógico, reflectir séria e aprofundadamente, com todos os portugueses: sobre a necessidade de melhorar a qualidade da nossa democracia, desde os partidos que temos aos políticos que elegemos; sobre a exigência de construir uma justiça igual para todos, pobres e ricos, fracos ou poderosos; sobre a obrigatoriedade de ter um Estado social de excelência, garante da igualdade de oportunidades e instrumento de defesa da dignidade dos mais vulneráveis.
É essencial, com visão estratégica, interrogarmo-nos sobre o nosso modelo de desenvolvimento. O importante não é saber se o nosso PRR é o primeiro a chegar a Bruxelas. Importante é saber se ele é o melhor e o mais competitivo. Afinal, vamos gastar ou vamos investir? Vamos ganhar produtividade ou vamos simplesmente despejar dinheiro em cima dos problemas? Vamos liderar o crescimento ou vamos andar apenas à boleia dos outros? Vamos ter ambição ou prosseguir na estagnação? Em suma: queremos chegar ao futuro ou queremos ter futuro no futuro? Parece um jogo de palavras mas é, afinal, o grande desafio que temos pela frente.

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