Vivemos tempos muito difíceis, férteis para o surgimento dos monstros que nos falou António Gramsci.
As guerras não terminam. Há uma grande crispação internacional. As tarifas agravam o mau estar.
A Segunda Guerra Mundial foi a maior guerra de sempre. Hoje estima-se que morreram nela, e em sua consequência, mais de 70 milhões de seres humanos. Cometeram-se as maiores atrocidades da História: genocídios; matanças de grupos de pessoas em câmaras de gás; bombardeamentos de populações indefesas; lançamentos de bombas atómicas sobre cidades; etc. Os horrores da Segunda Guerra Mundial são indiscritíveis.
A geração do após guerra viveu perto de muitas atrocidades. Foi muito influenciada pelas ideias progressistas defensoras da Paz. Socialistas, comunistas e outras tendências da esquerda agiram muito em favor da Paz.
Os jovens portugueses da década de 60 e 70 do século passado, que se reviam na esquerda, independentemente das divergências, sempre tiveram uma visão pacifista do mundo. Foram contra a guerra colonial, para onde eram chamados, para servir as forças armadas e matar ou morrer. Foram contra a guerra do Vietname, contra a guerra da Palestina e as outras. Foram pelo desarmamento gradual das superpotências e contra os blocos militares. Reclamaram o fim da NATO e do Pacto de Varsóvia.
É verdade que houve sociais-democratas, no final da década de 70, em particular ingleses, que absorveram as ideias da direita e tornaram-se apologistas do militarismo, tal como hoje é Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, mas outros, com Olof Palme à cabeça, foram esteios na luta pela Paz e contra o militarismo.
Neste difícil mês de Abril, decorre a pré-campanha eleitoral. Temos assistido aos debates, não por termos qualquer necessidade de reavaliar o nosso voto, mas por pretendermos saber o que os diversos leaders pensam. Não esperávamos encontrar surpresas, mas fomos surpreendidos por um concorrente que se reclama da esquerda: Rui Tavares.
Tínhamos ouvido o comentariado de centro-direita tecer grandes elogios ao novo leader. Sabíamos das suas divergências com BE pelo qual foi deputado no Parlamento Europeu, das suas ligações à Câmara de Lisboa, vereador pela mão do PS. Ouvimos falar da ida de António Costa a um evento do seu partido. Não lhe tínhamos prestado atenção e por isso não percebíamos o que levava a ser tão acarinhado pelos mídia.
Ouvimos Tavares debater com Paulo Raimundo, com Mariana Mortágua e com Rui Rocha. Percebemos o carinho que o centro-direita lhe dedica. Percebemos o seu discurso. Surpreendeu-nos que quem se reclama da esquerda possa apoiar tantas soluções que são da autoria da direita. É surpreendente a sua simpatia por soluções liberais. O seu discurso é generalista e sem detalhe. Não apresenta soluções práticas para o curto-prazo. Divaga sobre a economia. Ignora as necessidades mais urgentes de quem vive com baixos salários e baixas pensões. Que grande decepção!
Porém, o pior viria quando o leader do Livre defendeu a continuação da guerra da Ucrânia, a corrida aos armamentos e um exército europeu. Nunca tínhamos ouvido alguém que se diz “da esquerda à esquerda do PS” falar assim. Temos pena que Tavares não tenha nascido uns 20 anos mais cedo, para o podermos ter visto com a farda do Exército Português a embarcar para a Guiné, Moçambique ou Angola.
Temos a certeza que se ele tivesse vivido esta experiência falaria de forma diferente!
O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.