No rescaldo das eleições legislativas, os leitores de O Regional registaram duas opiniões sobre a atividade do executivo municipal de São João da Madeira, liderado por Jorge Sequeira desde 2017. Partindo destas perspetivas antagónicas: o imobilismo, sugerido por Paulo Cavaleiro, durante a sua campanha como candidato a deputado, e a grande atividade, defendida por Leonardo Martins, após o dia 18 de maio, ambas veiculadas neste jornal, permaneceu a dúvida, qual destas duas visões estaria “correta”?
Obter a verdade seria complexo, dependendo da análise de dados concretos e da perspetiva de quem observa. Ambas as posições são compreensíveis no contexto de diferentes agendas partidárias – a oposição tende a focar-se nas falhas, enquanto do outro lado, em apoio ao executivo, realça-se o esforço e os projetos.
Para ir além das retóricas partidárias, será importante proceder a uma análise baseada em projetos concretos, para aferir a capacidade operacional do executivo de Jorge Sequeira através de cinco casos emblemáticos:
1) “Casa da Memória” (depois “Casa da Memória Industrial”): Prometida em 2017, ainda sem inauguração em 2025, e com alteração de conceito. Este cenário aponta para falhas no planeamento inicial, dificuldades na alocação de recursos (ou na superação de entraves burocráticos/financeiros). Uma promessa não concretizada em dois mandatos consecutivos, que levanta sérias dúvidas sobre a capacidade de edificar projetos culturais emblemáticos.
2) Novas Piscinas Municipais (projeto de Souto Moura): Idealizadas em 2013 e adiadas até 2017, quando o executivo de Jorge Sequeira manteve a promessa da sua construção. No entanto, em 2025, o projeto é novamente reavaliado pelo arquiteto, sem que haja uma data para o início da construção. Esta é a situação mais crítica, evidenciando uma incapacidade persistente e transversal em concretizar uma infraestrutura de grande relevância, arrastando-se por mais de uma década. A responsabilidade, que começou noutra gestão, recai agora fortemente sobre o atual executivo por não ter conseguido fazer avançar a obra em oito anos de mandato.
3) Parque de estacionamento complementar à requalificação da Praça Luís Ribeiro, projetado para o “miolo” do quarteirão formado pela Rua Júlio Dinis e Rua Padre Oliveira. O concurso para adjudicação ficou vazio, sucessivamente, e uma infraestrutura importante para o estacionamento, sobretudo noturno, de apoio à zona de bares não se concretizou.
4) Novas Rotundas: Prometidas em 2021 e 2023 para melhorar o acesso à zona industrial das Travessas e aumentar a fluidez do trânsito no lugar da Ponte. Apesar de a sua validade ser reconhecida, em 2025 ainda não se conhece o cronograma de execução. Este facto sugere que, mesmo para intervenções de menor escala e de utilidade imediata, há uma lacuna entre a identificação da necessidade, a promessa de construção e a fase de planeamento detalhado e de execução com prazos definidos.
5) Ativação de Nova Habitação: O executivo demonstrou grande intenção de aumentar a oferta habitacional, lançando vários concursos para reconversão de antigas fábricas (Viarco, Nilo) e reconstrução ou construção de lotes / edifícios. Contudo, apenas no final do mandato é que apareceu um empresário interessado num desses concursos, conforme publicado na edição de 12/06/25, de O Regional. Paralelamente, no projeto das casas na Devesa Velha, a obra começou, com dúvidas se o volume projetado é superior ao permitido por lei, revelando uma hipotética falha no planeamento e no respeito pela legislação. A ausência de interesse empresarial e possíveis problemas legais apontam para deficiências graves na conceção dos projetos e na sua viabilidade.
Poder-se-ia ponderar “pouca operabilidade” ou “baixa capacidade de execução” como uma caracterização mais precisa do que “imobilismo”, dado que o executivo demonstra alguma atividade (lançamento de concursos, manutenção de promessas). No entanto, essa atividade não se traduz consistentemente em resultados concretos.
Analisando a totalidade dos cinco casos, a evidência aponta para uma incapacidade recorrente de transformar intenções e planos em realidade tangível. Há uma disfunção entre conceito e obra concluída.
Os projetos arrastam-se por anos, concursos ficam desertos e é com esta condição que a definição mais apropriada para classificar a capacidade operacional do executivo de São João da Madeira, liderado por Jorge Sequeira desde 2017, tem que estar relacionada com a inoperância na execução.
Uma conclusão que sublinha a falta de eficácia na fase crucial de implementação, onde as promessas deveriam ser materializadas. Não é apenas lentidão, é uma falha sistémica em colocar as ideias em prática, resultando numa lacuna significativa entre o prometido e o entregue.