Não é a primeira vez que falo de couves aqui nas “Hortalices”. Será, pelo menos, a terceira vez, sem contar com referências avulsas e ocasionais. Mas nunca vos tinha falado de uma couve que ensina Matemática. Foi num supermercado que eu a vi pela primeira vez. Era lindíssima, simetricamente cónica, pintada a tons de amarelo e verde. Reparei-lhe no nome: romanesco. Fiquei até com dúvidas que se tratasse de uma couve, mas era.
As couves da minha infância eram a ratinha, ou galega e a tronchuda. Mais tarde, conheci a bacalã, a penca, a coração, a lombarda, a de Bruxelas, o brócolo, a couve-flor e outras de que não me lembro. Mas a pandemia trouxe a couve-romanesco à minha horta. Há quatro anos, compramos uns viveiros cúbicos e neles semeamos vários tipos de vegetais, entre eles umas sementes de couve-romanesco. Nasceram minúsculas e enfezadas. Estive quase a deitá-las ao lixo. Mas eu tenho uma filosofia muito própria com as plantas: evito deixá-las morrer. Desde que haja uma nesga de terra onde as colocar, espeto-lhe lá o pé. Depois, elas que tratem da vida.
Na altura própria, plantei vários tipos de couve. Como já não tinha vaga para aqueles dois pés enfezados, resolvi ir ao talude da linha férrea e colocá-las lá, juntinhas, para não se sentirem sozinhas. Depois, perdi-as de vista. As gilas e os fetos taparam tudo e nunca mais me lembrei das plantinhas. Mais tarde, comecei a notar o aparecimento de um vulto de couve, no limite do talude com a zona da via férrea, mas não me lembrei das duas romanescas. Como a folhagem era muito escura, até pensei que fossem galegas. Mais tarde, notei umas manchas amarelas entre as folhas. Vieram-me à memória as pútegas da minha infância, mas não eram pútegas, eram as flores das romanescas. Só nesta altura me dediquei a investigar, descobrindo que “a forma geométrica da couve-romanesco é muito citada, como exemplo de uma forma fractal na natureza. Vista ao pormenor, a couve-romanesco organiza-se segundo a sequência de Fibonacci, ou seja, pela multiplicação das flores na sua perfeição, desde flores grandes até flores minúsculas”. Lembro-me que ouvi falar dessa fórmula, quando li “O código da Vinci”, de Dan Brown, mas só isso.
Fn = Fn - 1 + Fn – 2.
E eu, que fui sempre um nabo a Matemática, tive a sorte de degustar aquelas deliciosas couves latinas, esperando que, ao comê-las, a minha mente se abrisse à ciência dos números. Terminada a digestão, verifico que fiquei a saber o mesmo. Mas não vou cometer a indelicadeza de culpar aquelas couves tão lindas e tão saborosas.