Eu também tenho direito a fabricar neologismos. Pronto, “hortalices”. O corretor ortográfico não gosta, mas é assim que fica
Era para chamar a esta coluna de croniquetas hortícolas “Cartas da minha horta”. Mas achei a ideia presunçosa, porque sugeriria plágio das eternas “Lettres de mon moulin / Cartas do meu moinho”, do eterno Alphonse Daudet, poeta que um dia se viu proprietário de um moinho abandonado e a partir do qual escreveu as famosas cartas, cheias de pessoas, de plantas, de bicharada e de poesia.
Ora, a horta de que sou fiel depositário há oito anos, e que me foi outorgada pela senhora Câmara Municipal de S. João da Madeira, não tem coelhos, nem rebanhos, nem encostas de matagal. Tem formigas, toupeiras, ratos e gatos… estes últimos que se servem dela para as suas obrigações higiénicas, em vez de caçarem aqueles. E tem, mesmo ao lado, a nostálgica linha do Vouguinha e uns frondosos plátanos que se alimentam vorazmente do estrume e da água que destinamos às nossas hortaliças.
Fiquei então na dúvida sobre o nome que havia de dar aos textos que, quinzenalmente, hão de preencher uns centímetros quadrados deste centenário “O Regional”, jornal que, pela mão do seu futuro diretor adjunto, meu colega e correligionário de várias aventuras, Daniel Neto, aceitou a proposta que lhe fiz.
Que nome dar, então, a este retângulo de prosa? Se eu tencionasse escrever aqui coisas patetas, e sabe-se lá se não virei, chamar-lhe-ia “patetices”; se divulgasse falsidades, provavelmente o nome seria “aldrabices”, mas não tenciono; algumas vezes direi coisas chatas, mas, mesmo assim, não lhe chamaria “chatices”.
Regressemos ao problema do nome. O foco está na horta. Então, se o foco está na horta, as crónicas vão chamar-se “hortalices”. Eu também tenho direito a fabricar neologismos. Pronto, “hortalices”. O corretor ortográfico não gosta, mas é assim que fica.
Até daqui a quinze dias!