Azeite, ouro líquido… De entre os povos antigos que poderão ter descoberto a técnica de produzir o azeite, inclino-me para os sumérios, o povo da escrita cuneiforme, porque as letras tinham a forma de cunha.
Imaginemos o escriba Dumuzi, às voltas com a gravação da Epopeia de Gilgamesh, um “best seller” da época, farto de entalhar cunhas na placa da argila amassada pela sua esposa Ninsun. Não era fácil a vida do casal. Sem dinheiro para grandes iguarias, contentavam-se com a papa de azeitona, a fruta da oliveira, árvore abundante na Suméria. Um dia, Ninsun pediu ao marido que esborrachasse uma seira de azeitonas no buraco da rocha que usavam para esse efeito. Quando o entalhador estava a terminar a tarefa, caiu uma tremenda trovoada. Dumuzi até temeu que fosse um dilúvio semelhante ao que ele andava a gravar na Epopeia.
A papa ficou ali abandonada misturando-se com a chuva que caía do céu. No dia seguinte, Ninsun foi buscá-la, tentando aproveitar o que pudesse. Ao recolher a mistura, Nisun, boa observadora, como todas as mulheres, notou que se formara na superfície da mistela uma película dourada. Até pensou que fosse ouro líquido! Há tanto tempo que Dumuzi lhe tinha prometido um colar de ouro! Recolheu a película com cuidado e levou-a para casa numa tijela. Explicou ao marido onde a tinha apanhado. Provaram, não sabia mal, ao contrário da pasta escura que costumavam deglutir. Além disso, o líquido era macio, sedoso. As mãos de Nisun, sempre ásperas de tanto barro amassar, ficaram finas como as de uma donzela. E as mãos de Dumuzi nem pareciam as de um homem que passava o dia de estilete em punho a gravar cunhas nas tábuas de argila. O segredo das suas manicures começou a tornar-se notado. Até houve quem metesse cunhas para que eles o revelassem. Mas eles eram espertos e perceberam que tinham ali uma boa fonte de rendimentos.
Descobriram que havia formas fáceis de ganhar dinheiro, sem terem muito trabalho. Enquanto Ninsun dava conselhos de beleza nos palácios de Ur, Dumuzi, promovido a “chef”, divulgava receitas à base de azeite, através de um sistema de sinais de fumo. Tornaram-se então “influencers” famosos. Claro que nestas coisas há sempre invejas mal digeridas, por isso, havia uns quantos que lhes chamavam “azeiteiros”. Com invejas ou sem elas, a verdade é que estava descoberto o azeite!
Para que ninguém fique com os azeites, aqui ficam quatro informações interessantes:
– Enquanto a palavra “oliveira” provém do Latim “oliva”, “azeitona” provém do Árabe "az-zaituna";
– A pomba enviada por Noé para verificar a situação diluviana, trouxe no bico um ramo de oliveira, hoje símbolo da Paz;
– Em 2022, o setor olivícola contribuiu com 515 milhões de euros na balança comercial portuguesa;
– As duas árvores mais antigas de Portugal são duas oliveiras que terão entre 3.350 e 3.700 anos.