O primeiro sinal da presença das nêsperas é a flor. Se há árvore que enche de perfume o ar de fim de inverno, essa é a nespereira. E é ela que enche também os quintais de junho, desta vez não de branco, mas de um amarelo cálido. Há duas variedades, a europeia “Mespilus germanica”, com frutos mais pequenos, e a “Eriobotrya japonica” com frutos mais doces. Além do nome comum – nespereira – são árvores completamente diferentes.
Fiquemos pela “Eriobotrya japonica”, nome complicado mas pouco fiável, porque, em boa verdade, a nespereira de que falamos é originária do sul da China. Os japoneses, com a arte e engenho que lhes são próprios, melhoraram a espécie e, por via disso, ganharam direito a dar-lhe metade do nome científico. Quando os portugueses a trouxeram para a Europa, trouxeram o nome do país onde a encontraram. Partindo do princípio que nestas coisas das relações internacionais quando se traz uma coisa é porque se levou outra, pus-me a pensar em qual poderia ter sido a moeda de troca das nespereiras que trouxemos. A minha pobre cultura histórica lembrou-me logo das armas de fogo, que os portugueses introduziram no Japão. “Toma lá uma espingarda, dá cá uma nespereira”. Creio que nós ficamos a ganhar…
Perante as dificuldades que senti em falar desta fruta, lembrei-me de recorrer ao meu amigo Shiro Yianaga, há longos anos professor de Português na Universidade de Quioto. Disse-me ele que “o nome do fruto, chamado em japonês «biwa» é a palavra simbólica do início do verão e provém da forma do instrumento musical chinês «pipa»”. Por isso, também, no Português de Macau lhe chamam “biba”.
Mas as questões linguísticas à volta da nêspera não se esgotam no Oriente. Até em Portugal, há os mais diversos nomes para esta fruta: nêspera, ameixa-amarela, magnório ou magnólio e manganório. É só escolher. Nas línguas europeias, a confusão não é menor, cada um foi buscar nêsperas onde calhou: néflier, em Francês; em Inglês, loquat, para a “japónica” e medlar para a “germânica”; níspero, em Espanhol; nespola, em Italiano, estas mais próximas do Português.
Confesso que gosto de nêsperas. Dá-me um certo prazer, descascá-las, mastigar a parte carnuda, retirar os caroços escorregadios e projetá-los, assim como quem envia uma nave para o espaço, para ver onde chegam. Foi um hábito que me ficou dos tempos de escola, quando organizávamos campeonatos de lança-caroços de nêspera. E resultava, porque, daí a uns tempos, pequenas nespereiras brotavam da terra, exemplo perfeito de dispersão ecológica por agente animal, que os biólogos designam por “zoocoria”. Tanto que nós aprendemos a falar de nêsperas!