Há uns anos, numa passagem pela cidade suíça de Montreux, depois de ter descido na estação de caminhos de ferro, em direção ao lago Leman, ali bem perto da estátua de Freddie Mercury, encontrei um jardinzinho simpático, mesmo à beira do lago. Para surpresa minha, em vez de um jardim tradicional, com relva, sebes e flores, deparei-me com um jardim de legumes. Havia por ali canteiros com vários tipos de hortaliças, algumas das quais miniaturas, nomeadamente couves roxas e repolhos de outras cores. Um dos canteiros até era dedicado ao milho, grande e verdadeiro. Apesar de o episódio já ter alguns anos e de nunca mais ter encontrado nada semelhante, nunca me esqueci do hortícola jardinzinho de Montreux.
Há tempos, também as duas rotundas entre o Centro de Emprego, a PSP e a Universidade Sénior apareceram apinhadas de couves. No início, mal se distinguiam das pencas ou lombardas juvenis. Receei que, com a evolução natural, as couves acabassem por invadir a faixa de rodagem, o que acarretaria graves problemas à circulação, entre a Avenida Benjamim Araújo e a rua Alão de Morais. Mas não foi o caso. As ditas couves, ou repolhos, evoluíram de forma semelhante às couvinhas de Montreux. Cresceram um pouco e, mais tarde, apareceram com uma coroa esbranquiçada, estado em que se encontram atualmente.
Estas couvinhas, tal como todas as outras couves e repolhos, pertencem à espécie Brassica oleraceae, mas enquadram-se na variedade acephala, porque não formam cabeça ou repolho, abrindo em coroa. São comummente conhecidas por “couves ornamentais”, em resultado de criteriosas seleções. Há-as de várias cores, começando pelo verde-branco, derivando depois para tons arroxeados e amarelados. Não me aventuro nas explicações técnicas sobre a origem destas espécies, mas não posso deixar de fazer notar a crescente tendência para o aparecimento de legumes com caraterísticas diferentes das habituais, nomeadamente os chamados “mini-legumes”. E não se pense que ao “mini” dos legumes corresponda também o “mini” dos preços. Pelo contrário. No nosso habitat de seres humanos consumistas, o fator novidade acaba sempre por dar alguma projeção a este tipo de produtos. E os “chefs”, aqueles senhores que pintam o fundo dos pratos com coisas coloridas, não perderam a oportunidade para dar asas à imaginação e acrescentar também uns algarismos às contas dos clientes.
Não sabemos qual será o destino das mini-couves das rotundas sanjoanenses. Para acompanharem as mini-batatas do Natal, bastaria comprar mini-bacalhaus e estava feita uma bacalhoada gourmet. Entretanto, talvez para evitar tentações, a Universidade Sénior, na decoração da sua rotunda de Natal, resolveu colocar seis gnomos a fazer-lhes guarda de honra. Se alguém andava com más ideias, é melhor pensar duas vezes…