Opinião

Hortalices - Casos de cerejas e de palavras

• Favoritos: 27


Contemplando a montra natalícia de uma loja sanjoanense, com gordas cerejas chilenas, lembrei-me do velho ditado “as palavras são como as cerejas”. Quando se começa a falar, atrás de uma palavra vem outra; quando se comem cerejas, atrás de uma cereja vem outra e é difícil parar este encadeamento. Mas comparar cerejas com palavras não é tarefa fácil.
Dois caminhantes exaustos, calcorreando áridos caminhos, esfomeados como lobos, encontraram uma cerejeira carregadinha de rubras cerejas. Cada um agarrou num ramo e atiraram-se desalmadamente à fruta. Quando conseguiram acalmar um pouco os solavancos estomacais, pararam para ganhar fôlego. Comentou então um deles, ofegante: – Caramba, tinha tanta fome que comi caroços e tudo! Replicou então o outro, admirado: -

Não me digas que elas tinham caroço!
Assim se prova que as cerejas estão antes das palavras.
A cerejeira da quinta do seminário também dava cerejas, com caroço. E, na época própria, aquela cerejeira era uma tentação. Uma vez, o Leonel foi caçado em flagrante, encarapitado nos ramos a manducar silenciosas cerejas. O padre Luís, homem imaginoso, aplicou-lhe o seguinte castigo: “por cada caroço que eu encontre aqui no chão, vais escrever no teu caderno a frase: é pecado roubar cerejas.”

Poderá ter acesso à versão integral deste artigo na edição impressa n.º 4018, de 16 de janeiro de 2025 ou no formato digital, subscrevendo a assinatura em https://oregional.pt/assinaturas/

 

27 Recomendações
53 visualizações
bookmark icon