Se há fruta com História e com histórias, a maçã é uma delas. Pode ser reineta, bravo de Esmolfe, ou de Alcobaça, uma maçã é sempre mais do que ela. A história humana começa numa maldita maçã, pendurada no ramo de uma maldita macieira, perto de uma insidiosa serpente, ao alcance das mãos e do desejo dos dois ingénuos exemplares humanos então existentes.
Agora que ficamos com a certeza que só há dois sexos, podemos dizer que o sexo feminino sugeriu ao sexo masculino que colhesse aquela apetitosa maçã sem sexo, e foi o que se viu. Agora, cada vez que trincamos uma maçã somos levados a pensar “se não fosse aquela maçã, eu seria imortal e eternamente feliz”. E, sendo homem, ao passar a lâmina de barbear na parte inferior da queixada, lembro-me sempre que aquela protuberância está ali por causa da dita maçã; ao menos, o Adão podia ter feito um esforçozinho para engolir tudo. Mas não quero acentuar a carga negativa deste episódio porque, afinal, a maçã não teve culpa. Por isso, proponho-vos uma viagem por outras maçãs.ue os romanos chamavam-lhe “malum”, no singular e “mala” no plural. A nossa “maçã” provém de uma variedade, as “mala matiana”. Às saliências do rosto humano, chamamos “maçãs do rosto” e os ossos zigomáticos que as suportam também têm o nome de “malares”.
No início desta crónica, disse-vos que uma maçã é sempre mais do que uma maçã. Se virmos bem, tudo o que nos rodeia é sempre mais do que aquilo que parece ser. O desafio está em “ver as formas invisíveis” de que falava Pessoa, a propósito de coisas muito diferentes de uma maçã.
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