
Urgebão, urtigas, alfavaca, arruda, parietária vermelha, malva, verbasco, bardana, salva, funcho, ervacidreira, ervamoura, hortelã, mostarda, murtinhos, tília, basilicão…
Sabe o leitor que o urgebão é bom para as intumescências do fígado? E que o suco de urtigas cura a brotoeja? E que os grãos de funcho são ótimos para as cólicas? E que a erva-cidreira é antiespasmódica?
Confesso que, na minha horta, não existem metade destas ervas e plantas. Quanto às suas qualidades terapêuticas, sei ainda menos. E quando não sabemos alguma coisa, falamos com quem sabe. Eu falei com Camilo, sim, esse, o Castelo Branco.
Quando reconstituímos, na nossa memória de leituras e imagens, a figura de Camilo Castelo Branco, não conseguimos vê-lo agarrado a uma enxada, a tratar de ervas medicinais nos quintais do Porto, ou a cultivar a horta fronteira à sua casa de S. Miguel de Seide. Vemo-lo, sim, polindo as calçadas portuenses, de botas de verniz, chapéu de castor e bengala encastoada, a mirar janelas e portais de convento, na esperança de ser conquistado por alguma das suas muitas admiradoras. Ou poderemos vê-lo, mais tarde, em Seide, calcorreando caminhos minhotos, ou sentado na sua mesa de trabalho, a aprimorar ou a apressar escritos essenciais à sua sobrevivência. A enxada de Camilo era a pena de onde saíram dezenas de novelas e romances, onde miramos hoje a sociedade do seu tempo.
Mas, dessa existência escritora, não se depreenda ignorância quanto às coisas do campo. Aliás, todas as áreas que passavam pela sua escrita, Camilo fazia questão de as estudar em profundidade. A imagem de um Camilo apressado a acabar textos que precisava de entregar nas tipografias é totalmente contrariada pelas mostras de saber enciclopédico que revela nas suas obras, a propósito dos mais diversos assuntos.
Por razões circunstanciais, dediquei-me recentemente à releitura de “Eusébio Macário”, uma obra com o seu quê de provocação aos escritores da “geração realista” – Eça e companhia. Para provar que também conseguia seguir os “processos novos”, Camilo escreveu a história de Eusébio Macário e de seu filho José Fístula, ambos farmacêuticos na vila de Basto.
Apesar de Camilo confessar ter escrito a obra “dum jato” e “sem intermissões de reflexão”, nem assim lhe faltou tempo para procurar no campo ou nos livros de farmacopeia aquela sugestiva lista de ervas e mezinhas, fruto de saberes ancestrais e, ainda hoje, usadas por muita gente. Faltando-me espaço nesta coluna, para vos explicar todos os benefícios e caraterísticas das dezassete plantas camilianas, aqui fica o desafio: leiam “Eusébio Macário”.

