Opinião

Hortalices - Aromáticas VI - A Arruda dos mágicos poderes

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As aromáticas de que vos tenho falado nesta coluna têm, normalmente, odores agradáveis e sabores simpáticos para as papilas gustativas. Para que nos lembremos que o mundo é composto de realidades agradáveis e outras menos agradáveis – e como o sabemos! – hoje vou apresentar-vos uma plantinha com fama e proveito de malcheirosa: a Arruda. Não sendo particularmente supersticioso, tenho no meu jardim e na minha horta, vários exemplares de arruda. Certo dia, uma caminhante da Rua do Vale do Vouga pediu-me um pé e eu dei-lho de boa vontade. Não colhi nenhum benefício particular do gesto, apenas o gosto de satisfazer a vontade da caminhante. Também não sei se ela tirou algum proveito da arruda que lhe dei.
Falemos então da arruda, um subarbusto de caule lenhoso e folhas verde-azuladas ou verde acinzentadas e flor amarela. Quanto a simbologias, benefícios e malefícios, não bastariam todas as páginas deste jornal para os descrever. Estou em crer que o seu cheiro desagradável motivou preconceitos, talvez nunca comprovados, mas a verdade é que os gregos lhe atribuíam propriedades abortivas. Há quem diga que essas propriedades não advinham de nenhuma caraterística especial, ou seja, o cheiro da arruda era suficiente para enjoar as grávidas e provocar os abortos.
Quanto a malefícios corporais, estamos falados, apesar de haver quem lhe atribua caraterísticas benéficas. A arruda era uma das nove plantas que entrava na composição do “vinagre dos quatro ladrões”, mezinha medieval para a proteção contra a peste. Dizia-se que os ladrões nunca adoeciam, mesmo quando roubavam casas onde havia gente doente, porque usavam o dito vinagre. Então, eles começaram a fazer chantagem, revelando a receita secreta, em troca da liberdade.
Ainda hoje, a arruda continua a ser considerada uma planta com “poderes”: proteção contra a inveja e o mau-olhado e, concomitantemente, promovendo a boa sorte e a prosperidade. Há ainda quem a use em fumigações e banhos purificadores, mas disso não vos posso dar conta, porque nunca experimentei.
Quando escolhi esta plantinha para anteceder o Natal e encerrar o ciclo das aromáticas, fiquei com alguns remorsos. Talvez uma aromática malcheirosa não seja muito apropriada. Mas, pensando melhor, vou aproveitá-la para vos desejar a Boa Sorte e a Prosperidade que tanto ambicionamos. E que afaste o mau olhado diariamente lançado pelos poderosos deste mundo.
Votos de Bom Natal e Bom Ano de 2026, a todos os sanjoanenses, aos meus leitores e à equipa d’ “O Regional”, que têm a paciência de me aturar.

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