Opinião

Hortalices - A romã, a rainha e outras confusões

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A romã é uma fruta fascinante. Olhamo-la por fora e a única coisa que nos prende a atenção é aquela espécie de coroa que encima a esfera, restos da flor que ali houve. A esfera lisinha e aquela coroa minúscula fazem-me lembrar a rainha Vitória com a sua pequena coroa (atenção que ela tinha outras, maiores). A ideia é um pouco estranha, mas quando fazemos uma crónica frutícola temos que nos socorrer do que nos vem à cabeça. E começar uma crónica sobre a romã com a imagem da rainha Vitória nada tem de desprestigiante, nem para a fruta, nem para a rainha.

A seguir, pegamos numa faca, rachamos a esfera lisinha da romã e é um deslumbramento, espalham-se pelo prato de quatrocentos a seiscentos grãos, imaginário tesouro de rubis e esmeraldas. E se falássemos de simbologias e remédios, não chegaria esta página inteira. Lembro apenas que o escudo da cidade de Granada - “Ah, o Alhambra!” - é uma granada espanhola, ou seja, uma romã portuguesa.
É muito difícil falar da romã, porque as teorias quanto à origem do nome são mais que muitas: “mala romana”, maçãs romanas; “malum punicum”, maçã cartaginesa; “malum granatum”, maçã granulada. Em português, a palavra terá provindo da primeira expressão, “mala romana”, ou do árabe “rumman”, mas, em espanhol, por exemplo, a romã chama-se “granada”, em francês “grenade” e em russo “granat”, todas provenientes de “malum granatum”.
Com tantos nomes, não é de admirar que a romã dê origem a confusões linguísticas inimagináveis. Quando vão ao restaurante, as pessoas têm apetites. A um pacato turista azeri, com passaporte israelita, amesendado num restaurante de Lisboa, apeteceu-lhe romã. E justifica-se tal apetite, porque a romã é proveniente da Ásia e é natural que os asiáticos apreciem romãs. Mas o turista não sabia dizer “romã” em português e socorreu-se dos dicionários automáticos. Ora, a palavra russa “grenat” refere-se tanto às granadas com grãos de chumbo, como às inofensivas romãs de bagos sumarentos. O homem queria uma romã, ou o sumo dela, talvez.  A conversa foi avançando, “grenat” para aqui, “granada” para ali, confusão quanto baste, o empregado de mesa achou que o homem tinha uma granada no saco e não esteve com meias medidas, vá de chamar a polícia! Evacua-se o restaurante - “lá ficou o bife a meio!” - algema-se o turista, estende-se no passeio, manda-se investigar nas bases de dados dos terroristas internacionais e nada! O homem não era terrorista, nem tinha granada nenhuma, apenas queria romã, ou o sumo dela, não se chegou a saber.
O que eu sei é que o azeri teve um azar dos diabos! Mas, pelo menos, deve ter ficado a saber dizer “romã” em português.

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