Na semana passada, fui ter com o Dr. Flores. Estarão os leitores a pensar nalguma consulta para me queixar dos meus achaques, mas não. Também não pensem que o encontrei nalguma tertúlia poética ou bibliográfica. Também não fui ver as caixas onde se guarda a magia que, por alturas do Natal, salta para as paredes da sua casa. Não, o motivo do nosso encontro foi a horta. O Dr. Flores tem uma horta e tem muito orgulho na sua horta. Ele diz que é mais um pomar ou uma selva do que uma horta; ao percorrê-la, concordei com ele.
Perguntei-me: o que leva um homem de 96 anos a persistir no cultivo da sua horta? A resposta talvez esteja na explicação que ele próprio me deu. “Nós temos três mães: a mãe que nos gerou, a mãe que temos no céu e a mãe-natureza”. A horta, o pomar, ou selva, como lhe quisermos chamar, é o seu lugar de encontro com esta última. Durante laboriosos anos, construiu cantos e recantos, onde se aconchegam árvores de fruto, hortaliças, arbustos e todo o género de espécies vegetais.
Se, nas suas “Viagens”, Garrett por ali tivesse passado, poderia ter dito o que disse quando passou no Vale de Santarém: “não há ali nada grandioso nem sublime”, mas “tudo quanto se vê e se sente não parece senão a paz, a saúde, o sossego do espírito e o repouso do coração…”
Continue, companheiro Flores!