Opinião

Hortalices - A estranha má fama da banana

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Apesar de ser uma fruta particularmente apreciada por grandes e pequenos - e ambos por razões dentárias e gustativas - a verdade é que a banana tem má fama. Por dá cá aquela palha, acusa-se um qualquer indivíduo de “ser um banana”, só porque não deu um par de bananos a quem o ofendeu. Quando alguém se esforça pouco e confia na boa sorte da sua mandriice, é porque vive “à sombra da bananeira”. Aos imprevidentes que caem facilmente em armadilhas, diz-se que “escorregam nas cascas de banana” que alguém deixou no caminho. Quando as críticas atingem um país inteiro, porque só funciona bem a secção dos poderosos, lá vem a revelha frase “isto é uma república das bananas”.
Quem não se importou muito com a má fama da banana, ou quis resgatá-la da maledicência, foi o italiano Maurizio Cattelan cuja banana, presa a uma parede com fita adesiva, rendeu a módica quantia de 6,2 milhões de dólares. As bananas e as bananeiras podem agradecer ao Maurizio esta vingança milionária e exclamar, perante todos os que delas dizem mal: “Tomem que já almoçastes! Bananas, claro!”banana
E, todavia, além da razão gastronómica que apresentei no início desta crónica, temos outras razões para dizer bem da banana. À exceção dos nossos vizinhos espanhóis, que deram a esta fruta dois nomes, “plátanos” e “bananas”, a generalidade do mundo usa palavras da família da nossa portuguesíssima palavra “banana”. Portuguesíssima, porque quando os nossos navegadores trouxeram a bananeira da costa ocidental africana, trouxeram também para a Europa, e deram forma escrita, à palavra usada pelas populações locais para nomear o fruto. No amigo “tradutor google” não encontrei qualquer língua que não usasse o radical “banan” para a designar. Não arrisco muito, se disser que “banana” é a palavra portuguesa mais difundida no mundo. Mas essa não é a única razão para dizermos bem da banana.
O facto de não ter caroço parece ser uma das maiores qualidades desta fruta da planta herbácea da família Musaceae, que tão facilmente se produz na ilha da Madeira. Mas a falta de caroço fez-me lembrar uma anedota madeirense. Nos tempos da “outra senhora” havia muitas zonas do país onde as bananas não chegavam, ou chegavam muito caras. Conta-se que um madeirense, falando com um amigo continental, descobriu que este nunca tinha provado bananas. Então, mandou entregar-lhe em casa um belo cacho delas. Quando se reencontraram daí a uns tempos, o madeirense não resistiu a perguntar - “Então, o que achaste das bananas?” Resposta do outro: - “Não eram más, mas depois de deitarmos fora o caroço, ficou pouco que comer. Além disso, a casca era muito rija.” Assim se prova a importância de enviar o livro de instruções, quando se oferecem coisas novas aos amigos.
E, com tudo isto, continuo a não perceber de onde veio a má fama da banana.

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