O prólogo do livro de história da nossa cidade inicia-se algures por volta do século XI, período prévio até à formação da nacionalidade, com a primeira menção escrita de São João da Madeira. O êxodo do mesmo inicia-se em meados do século XIX e XX, altura em que uma pequena aldeia despercebida do âmbito do país se reinventa e afirma.
Estabelece-se na Península Ibérica como um dos principais pólos industriais com a indústria chapeleira, dos pelos e feltros, dos lacticínios e do calçado mais tarde. Inaugura-se a linha do Vouga, surge a Viarco e a Oliva, constitui-se a Associação Desportiva Sanjoanense, inicia-se a construção da nova igreja, cria-se o hospital e nasce o Grupo Patriótico Sanjoanense, impulsionador de todo este progresso e fundador da imprensa local com este mesmo semanário. Há uma explosão demográfica e social.
Atinge-se o clímax desta bonita história com a emancipação concelhia, a 11 de outubro de 1926, demandada pela força do povo.
O final do século XX e o início do século XXI não desapontaram todo este progresso. Pavilhão dos desportos, piscinas municipais, Museu da Chapelaria e do Calçado, Oitava Avenida, Centro Tecnológico do Calçado, Casa da Criatividade, Oliva Creative Factory, Turismo Industrial, Parque do Rio Ul, a luta pelo Hospital e muitos outros marcos que não terei certamente espaço neste artigo e seriam necessárias páginas e páginas simplesmente para os enunciar, nas mais diversas áreas da vida em sociedade.
Capital do Calçado, Cidade do Trabalho, “Unhas Negras”. Melhor município português para viver em 2010.
Uma história que poderá ser resumida em 3 partes: o apogeu, o continuum e o agora – o agora e o passado recente.
Uma última fase de adormecimento geral. Uma última fase em que toda a força e pujança da cidade fazem-se meramente sentir em hora de ponta na Avenida da Liberdade, com o trânsito infernal e a impaciência desmedida dos condutores. Uma última fase em que discutimos cegonhas avidamente enquanto observamos, impávidos e serenos, à deterioração, ao roubo e destruição das construções físicas e sociais (porventura mais relevantes as sociais) que tanto nos honraram em tempos passados e que são os pilares do que é ser-se sanjoanense. A linha do Vouga, a ADS, a retirada aos sanjoanenses do Hospital, as piscinas, entre muitos outros. Uma última fase com a cidade e o seu centro – a praça – desértico e em extinção. Uma cidade que está fora de moda. Uma cidade sem força, sem voz, sem querer. Sem vibração, sem vitalidade e sem bairrismo. Uma cidade perdida que se refugia e contenta com os sucessos passados, sem ambição de voltar ao panorama nacional, de voltar ao número um, ultrapassada vez após vez pelos competidores vizinhos sem dar por isso. Não, não foi desta cidade e destes sanjoanenses que escreveu João da Silva Correia.
Nada do que foi será de novo do modo que foi um dia, mas a capacidade de renascer e de nos reinventarmos, a capacidade da ressignificação e de retornar ao topo onde uma vez se habitou naturalmente é o que torna uma cidade nobre e que faz com que esta seja uma luta que valha a pena ser lutada. Não é tarde nem é cedo para honrar a memória e fazê-lo com alma.
E assim dou início ao meu espaço de crónicas e artigos, ideias e ensaios, pensamentos e opiniões mas, acima de tudo, convicções.