Opinião

Há gestos que jamais se esquecem!...

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O Serviço Nacional de Saúde tem tido imensas dificuldades para dar resposta a tantas situações terrivelmente dolorosas de muitas, muitas pessoas.
A exaustão dos profissionais de saúde é um drama que nos devia preocupar a todos, pois quem pode cuidar da nossa saúde tem de ter o mínimo de condições físicas e psicológicas, para o poder fazer, porque com ela, todo o cuidado é pouco.
Tive conhecimento da atribuição da medalha de ouro ao doutor Almiro Mateus, pelo presidente da autarquia de Penafiel.
A que se deve esse galardão?
Um dia em que este médico reformado estava num restaurante em Boelhe, Penafiel, a saborear uma boa e suculenta refeição, por momentos decidiu sair para fumar.
Noutra mesa próxima, encontrava-se o sacerdote da terra que teve uma inspiração brilhante: – Atrás de quem pede, ninguém vai”!...
Sai atrás do médico, resolvido a suplicar- lhe um comovido apelo:
– Ó Sr. Doutor, os meus idosos estão encerrados em casa, devido à pandemia, com falta de medicamentos, sujeitos a morrerem, porque não conseguem obter uma consulta. Alguns deles não têm saúde, para irem de madrugada engrossar as filas no Centro de Saúde.
– A pandemia tolheu-os de tal forma que alguns deles, que costumavam vir acender uma luzinha na sepultura dos que continuavam a recordar e a amar no seu coração, deixaram de o fazer, com medo. Eu compreendo a sua dor e, ao visitá-los, falo-lhes carinhosamente e sossego-os, dizendo-lhes que o vou fazer em vez deles.
O Dr. Almiro, impressionado com o que ouviu, teve um baque e pensou: “A minha missão é ser médico especialista em gente, tal como este sacerdote”, dizendo-lhe:
– Eu vou fazer isso com todo o gosto. Ao sábado, de 15 em 15 dias, atenderei os seus idosos, mas diga-lhes que não aceito qualquer oferta, pois se tal acontecer, por onde entrei, eu saio. Não usa relógio. As consultas não são cronometradas.
Este especialista em gente, sabe que é melhor escutar do que ouvir. É que na doença, no isolamento, na solidão, saber escutar é a melhor receita.
O consultório é numa associação da terra que foi disponibilizada para esse efeito.
Agora, este médico já tem um espaço próprio, graças a alguém que empenhou a sua própria casa, para obter financiamento.
Das aldeias vizinhas, acorrem a este médico jovens e outros necessitados e são atendidos.
Para finalizar, deixo aqui o meu sincero desejo e também o meu apelo: que este exemplo toque fundo no coração de muitos outros médicos reformados, que tenham saúde e disponibilidade, para o poderem fazer.

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