Opinião

fotografias com HISTÓRIA com fotografias - OLIVA – Que de histórias por contar! – José Maria dos Santos –

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A história da Oliva não se esgota em nenhum dos trabalhos dedicados à empresa fundada em 1925, em São João da Madeira, sejam eles peças jornalísticas, dissertações de mestrado, teses de doutoramento ou livros. A história da Oliva é feita de muitas histórias que se vão contando e de outras tantas que ficam por contar. É um trabalho inacabado.
Quando o seu fundador, António José Pinto de Oliveira, criou a sociedade “Oliveira, Filhos & C.ª Lda.” tinha plena consciência das dificuldades que ia encontrar. Transformar o pequeno armazém rudimentar que acolheu a empresa numa estrutura industrial semelhante às que conheceu durante o seu processo de formação – designadamente as fábricas Brüder e Böhm, de Viena e Praga, onde estagiou em 1912 – não era tarefa fácil, muito menos no Portugal instável da década de 1920.
Se é verdade que por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher – o que se aplica a António José Pinto de Oliveira –, também deve ser verdade que por trás de um grande homem há sempre uma grande equipa. E esse era, com toda a certeza, um princípio que o fundador da Oliva nunca descurou.
A montagem e arranque da Oliva foi um processo lento, em que o conhecimento, a consistência e a segurança foram priorizados. De Lisboa e de outros centros do País onde a indústria metalo-mecânica estava implantada, vieram técnicos e engenheiros, aliciados por um projeto ambicioso e melhores condições de trabalho.

José Maria dos Santos, em 1914

José Maria dos Santos foi o primeiro a chegar a São João da Madeira. Veio de Alcântara, freguesia pertencente à Zona Ocidental da capital, onde nasceu a 23 de fevereiro de 1895, no seio de uma família burguesa. Fez parte do Corpo Expedicionário Português que participou na I Guerra Mundial e foi feito prisioneiro, tendo permanecido dois anos no campo de concentração de Cottbus, na Alemanha. Sobreviveu à guerra, às condições desumanas do cárcere e regressou a Portugal, em 1918. Foi agraciado com a Cruz de Guerra, por um ato heroico que protagonizou, durante a rendição das tropas germânicas.
José Maria tinha 30 anos, quando entrou na Oliva. Pela experiência adquirida na área da metalo-mecânica e pelas suas qualidades humanas e de trabalho, cedo se tornou num dos homens de confiança de António José Pinto de Oliveira. Entre outras coisas, a ele se ficou a dever a criação do ferro de engomar da marca Oliva, que se distinguia dos demais, pelo pequeno galo que fechava a tampa do reservatório de carvão e, mais tarde, o desenvolvimento das salamandras e dos caloríficos que aqueceram as casas de Portugal inteiro.
Não se sabe, ao certo, como se deu o primeiro encontro de José Maria com Aura Barros, a mulher com quem casou em 1927. É muito provável que ele tenha acontecido durante uma exibição do Grupo Cénico, “inteligentemente ensaiado pelo sr. João de Barros Costa”, de cujo elenco se destacava a jovem Aura, sua filha, atriz amadora “muito talentosa”, segundo a imprensa local da época.
Do enlace matrimonial, nasceram duas filhas – Maria Manuela e Maria José Barros Santos –, assistidas nos partos pela avó materna, em casa alugada pelo casal.
No final da década de 1920, José Maria e Aura adquiriram um terreno, no alto da colina onde sobressaíam as vivendas de Quintino Silva e António Henriques, com vista para o mar – ainda que muito longe – e também com vista privilegiada para o complexo industrial Oliva que se desenvolvia, vertiginosamente, lá em baixo, no vale por onde corre a ribeira da Buciqueira.

Casa-mãe, em 1936

Foi nesse terreno que José Maria dos Santos mandou edificar a casa da família que, à época, era térrea, na frente virada para a atual Avenida António Henriques. Como é comum dizer-se, foi sempre “uma casa cheia”, visitada frequentemente pelos familiares dos proprietários, que vinham de Lisboa, de S. Pedro do Sul e do Porto.
Maria Manuela e Maria José receberam uma educação esmerada, concluída no Colégio Luso-Francês, no Porto, de onde regressaram, “com novas e aprimoradas competências culturais, artísticas e sociais”. Casaram na terra. Maria Manuela com Alberto Teixeira, industrial de chapelaria, em 1950, e Maria José com Flores dos Santos Leite, médico formado em Coimbra, em 1957.
Com o crescimento do agregado familiar, a casa tornou-se exígua. As obras de ampliação contemplaram um piso superior, a construção de uma garagem, com acesso à atual Rua de Olivença, e uma nova casa na parte mais baixa do terreno, batizada “casa-com-ponte”, enquanto o edifício principal passou a ser designado “casa-mãe”.
José Maria dos Santos e Aura Barros viveram o resto dos seus dias como chefes de um clã unido e feliz. Foi nesse ambiente de felicidade que viram nascer os quatro netos – Maria Alberta, Maria Paula, Miguel e Maria Carlota.
Maria Paula, que deixou em livro as memórias da família, diz que “o avô era um homem profundamente agradecido e profundamente generoso” que repetia, vezes sem conta: “Sou um homem feliz!”. E não lhe faltavam motivos. Era a forma de estar de alguém “que aceitou com brandura as sequelas da guerra que o deixaram doente e confinado”, que aceitou com brandura “a Oliva ser adquirida por um grupo americano”, ainda que ciente que aquilo era o início da derrocada de um “império” que ajudou a construir.
O patriarca José Maria dos Santos finou-se no dia cinco de agosto de 1974. Por pouco tempo, não assistiu ao despertar de uma nova geração. Por alguns anos, não pôde vibrar, ao lado de Aura, com os feitos do neto Miguel, cujo expoente máximo foi a conquista da Taça das Taças de hóquei em patins, ao serviço da Associação Desportiva Sanjoanense.
Os anos passaram e a “casa-mãe” está a poucos dias de voltar a tornar-se na “Casa do Pai Natal”, símbolo da paz e da felicidade.

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