Foi em 1878 que Daniel Nicolau Soares da Costa e sua mulher, Luísa Emília da Costa, trocaram Casaldelo por Carquejido, lugar de S. João da Madeira onde o pulsar da freguesia se fazia sentir com mais intensidade, muito por culpa de uma indústria chapeleira em franca expansão.
Luísa estava grávida do primeiro filho e a casa que escolheram para viver era suficientemente ampla, para proporcionar à família boas condições de habitabilidade. Ficava situada no espaço que hoje é ocupado pela Universidade Sénior, do Rotary Clube de S. João da Madeira, na Rua Alão de Morais.
Entre essa data e 1901, os novos aposentos do casal tornaram-se naquilo a que, comummente, se chama uma “casa cheia”. Foram 10 os filhos lá nascidos, durante esse período: António, Manuel, Artur, Guilhermina, Luís, Américo, César, Júlia, Lucinda e Mário.
À semelhança dos primos de Casaldelo, os três primeiros embarcaram, ainda crianças, para o Brasil. António viajou sozinho para o Rio de Janeiro, em abril de 1892, tinha então 13 anos, Manuel e Artur viajaram juntos para o mesmo destino, em dezembro de 1894, com 13 e 12 anos de idade, respetivamente. Pouco tempo depois, trocaram o Rio por Belém do Pará e foi aí que desenvolveram as suas atividades comerciais e industriais, altamente lucrativas, como é bom de ver.
Manuel Nicolau da Costa especializou-se na produção e comercialização de farinha de mandioca – ingrediente obrigatório na dieta alimentar brasileira – o que lhe valeu o epíteto de “Rei da Farinha”. Boa parte do seu pecúlio foi aplicado na construção de uma casa abrasileirada, em Carquejido, conhecida por “Palacete do Rei da Farinha” e que ficou pronta a habitar, em 1922. Porém, Manuel continuou com a sua atividade empresarial no Pará, nomeadamente na “Casa Nicolaus & Companhia”, uma sociedade constituída em 1916 por ele, por Benjamim José de Araújo e pelo primo José Nicolau Soares da Costa, que se dedicava ao comércio da borracha e navegação fluvial, na bacia do rio Amazonas.
Como nota curiosa, o técnico responsável pelas contas da empresa, na reta final da sua existência, era um jovem sanjoanense chamado Manuel Pais Vieira Júnior.
A “Casa Nicolaus & Companhia” cessou a sua atividade em 1936, um ano depois do falecimento de Benjamim Araújo, que era, à data, presidente da Câmara de S. João da Madeira. No ano seguinte, Manuel e Vieira Júnior regressaram, definitivamente, à sua terra natal, enquanto José continuou com atividade comercial do outro lado do Atlântico, por mais algum tempo.

Os filhos de Daniel Nicolau que não fizeram parte da “aventura brasileira” – Luís, Américo e César – foram, igualmente, empreendedores. O primeiro montou uma mercearia em frente à casa onde nasceu, que ficou conhecida por “Loja do Ti Luís da Viúva”. Os outros fundaram a fábrica de chapéus “Nicolau da Costa & Companhia, Lda.”, uma empresa de sucesso e das que mais tempo resistiu à crise da indústria de chapelaria. Quanto a Mário Nicolau, o benjamim da família, viajou para o Brasil, em setembro de 1919, mas regressou pouco depois, vindo a trabalhar nas empresas criadas pelos familiares, em S. João da Madeira.
À boa maneira da época, os aposentos por cima da “Loja do Ti Luís” foram, também, uma “casa cheia”. Do casamento do proprietário com Rosa Soares das Neves, realizado em junho de 1912, nasceram onze filhos: Daniel, Hernâni, Napoleão, Luísa, Vasco, Noémia, Manuel, Octávio, António, Luís e Rosa. Três deles – Hernâni, Napoleão e Octávio – seguiram o exemplo dos tios e emigraram para o Brasil.
Hernâni viveu sempre com “um pé cá e outro lá”, mas foi em Portugal que desenvolveu a sua atividade empresarial, enquanto sócio fundador da fábrica de calçado “Colar”, da firma “Nicolaus & C.ª”, com sede na Rua Padre Serafim Leite, em S. João da Madeira. A casa que mandou construir em meados da década de 1950, em terrenos que pertenceram a seu avô, alberga, hoje, a Universidade Sénior do Rotary Clube.
Napoleão (1920-1982) fixou-se em Belém do Pará, onde viveu e foi sepultado, depois do seu falecimento na Clínica Houston (USA). Empresário de sucesso, Napoleão Nicolau da Costa foi figura destacada na colónia portuguesa daquela cidade brasileira, onde foi vice-cônsul português. Por relevantes serviços à comunidade, foi agraciado pelo Governo do seu país, em 1958, com a Comenda de Grão-Mestre da Ordem Portuguesa no Grau Oficial, que lhe foi entregue, pessoalmente, pelo Presidente da República de então, general Craveiro Lopes, aquando de uma visita oficial a terras brasileiras.
A família Nicolau é das mais numerosas e conceituadas de S. João da Madeira. Destacamos, neste trabalho, breves histórias de vida de alguns dos seus membros mais antigos, cientes que muitas outras ficaram por contar.