Opinião

fotografias com HISTÓRIA com fotografias - Casaldelo, Nicolaus e companhia (I)

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De todas as famílias que constituíram o primitivo clã de Casaldelo, aquela que mais prosperou foi, indubitavelmente, a família Soares da Costa. Os dois apelidos – Soares e Costa – surgem juntos, pela primeira vez, num registo da Junta da Paróquia de S. João da Madeira, de meados do século XVIII, mas é o nome “Nicolau” que, alguns anos depois, vai passar a identificar a família.
Para se perceber como tudo aconteceu, é preciso recuar a 1792, altura em que um dos filhos de Domingos Soares, neto paterno de Manuel Soares da Costa, “foi baptizado solenemente na pia baptismal” da igreja de S. João da Madeira, recebendo, como era tradição, o nome do padrinho, um tal “Nicolao da Silva Gomes, de Vila Nova de Gaia”.
Três dos netos de Nicolau Soares da Costa, nascidos na década de 50 do século XIX, quando foram batizados, receberam igualmente o nome dos padrinhos, mas o progenitor – Manuel Soares Correia –, em jeito de homenagem ao pai, juntou-lhes o patronímico “Nicolao”, pelo que passaram a chamar-se António Nicolau Soares da Costa, nascido em 1851, Manuel Nicolau Soares da Costa, nascido em 1854, e Daniel Nicolau Soares da Costa, em 1857.

António Nicolau e Vitória Emília, em 1809

Os três irmãos estariam predestinados a seguir as pisadas dos seus antecessores, pequenos lavradores de Casaldelo, mas os novos processos de produção, trazidos pela revolução industrial em curso, salvaram-nos das agruras da vida agrícola. As fábricas de chapéus de Vicente Ribeiro, Gomes de Pinho e Pais Vieira clamavam pela força dos braços jovens do povo enérgico e trabalhador do lugar. E foi assim que António, Manuel e Daniel se fizeram chapeleiros.
António casou, em 1870, com Ana Maria da Conceição e, dessa união, nasceu o primeiro e único filho do casal, a quem foi dado o nome de Manuel. A morte prematura de Ana Maria, em 1872, abriu uma ferida que demorou tempo a cicatrizar. António voltou a casar, em 1877, com Vitória Emília da Costa “filha legítima de Manuel Pais Vieira”, e desta relação nasceram dez filhos – Maria, António, José, Jaime, Anunciada, Américo, Nicolau, Helena, Adelaide e Flávio.
Manuel (Nicolau Soares da Costa) requereu o passaporte que lhe permitiu embarcar para o Rio de Janeiro, em 1885. Com catorze anos de idade, engrossou a leva de portugueses que, na segunda metade do século XIX, atravessaram um oceano de sonhos e de esperança, em busca de uma vida melhor. O destino, de acordo com o documento que lhe foi concedido, era o Rio de Janeiro, mas, por razões que se desconhecem, acabou por se fixar em Belém do Pará.

À semelhança do que acontecia com uma boa parte dos jovens da sua idade que embarcavam naquela aventura, Manuel começou por trabalhar como marçano, antes de se estabelecer com o seu próprio negócio, alcançando, a breve trecho, a estabilidade e autonomia financeira que procurava. O seu exemplo não passou despercebido aos meios-irmãos José, Jaime e Américo, que depressa mostraram desejo de se juntarem a ele, naquele estado do norte do Brasil, onde os sonhos pareciam transformar-se rapidamente em realidade.
Na primeira metade da década de 1890, aqueles três filhos de António e Vitória embarcaram para a cidade de Belém, a metrópole da borracha, onde se tornaram homens de confiança de Manuel Nicolau, liderando os negócios que este desenvolvia na capital paraense, desde comércio a retalho, “casas aviadoras” – estabelecimentos comerciais que abasteciam os seringais de mercadorias gerais, tal como alimentos, roupas e utensílios –, armazéns de “secos & molhados” e fábricas, com destaque para a produção tabaqueira e fosforeira.
A fábrica “Girafa – Soares da Costa & Cia.”, com sede na Rua da Indústria, em Belém, foi fundada a 31 de dezembro de 1913 e surgiu por iniciativa de José Nicolau Soares da Costa. Produzia cigarros, cigarrilhas e charutos que comercializava com as marcas Argentinos, Batuta, Gaby, Girafa e Nicolinos, entre outras. Em 1916, a fábrica passou a denominar-se “Girafa – Nicolau da Costa & Cia”.

(Continua)

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